Considerando que nossas interações são marcadas por alguma forma de intencionalidade e que em nossos textos (orais ou escritos) ficam assinaladas determinadas marcas de subjetividade em relação ao conteúdo apresentado ao nosso interlocutor, este artigo objetiva apresentar uma análise dos elementos modalizadores em seis resumos acadêmicos. Para a composição deste trabalho, lançamos mão dos pressupostos teóricos postulados por Ducrot e colaboradores (1988), na Teoria da Argumentação na Língua, quando apresentam que a língua é, por natureza, argumentativa e que na estrutura da língua há elementos que funcionam como a ossatura interna dos enunciados. Como teoria complementadora da Teoria da Argumentação na Língua, apoiamo-nos nos estudos desenvolvidos por Castilho e Castilho (1993), sobre o fenômeno da Modalização, quando apresentam a classificação da modalização em três tipos, a saber: deôntica, epistêmica e afetiva. Ressaltamos que, embora tenhamos como ponto de partida os estudos empreendidos por esses últimos dois autores citados, bem como Koch (2002) e Cervoni (1989), utilizaremos a revisão proposta por Silva (2015), a saber: deôntica, epistêmica e avaliativa. Quanto ao gênero resumo acadêmico, teremos como base os estudos desenvolvidos por Bakhtin (2000) e Marcuschi (2009) e, ainda, considerando a imprecisão para o que se deve considerar como resumo acadêmico, tomaremos, aqui, para efeito de análises, como resumo acadêmico, os textos produzidos e publicados em revistas e anais de congressos. Convém ressaltar, aqui, que tal empreendimento é caráter analítico-descritivo. A partir das análises empreendidas, identificamos que houve um maior uso da modalização dos tipos deôntica e epistêmica delimitadora, em oposição aos tipos epistêmica quase-asseverativa, epistêmica asseverativa e avaliativa. É possível afirmar, diante desse fato, que em um gênero como o resumo acadêmico, que se pretende, pelos manuais, ‘objetivo’, apresenta muitas marcas de subjetividade do locutor/produtor do texto, reforçando, assim, a proposta contida na TAL de que a língua é argumentativa por natureza e confirmada pelo fenômeno da modalização, quando afirma que sempre que apresenta um determinado conteúdo o locutor deixa demarcada a forma como deseja que seu texto seja lido, comprometendo-se em diferentes graus com o conteúdo exposto. Consequentemente, diante de tal observação, ainda que não seja nosso objetivo explícito nesta pesquisa, não podemos deixar de pensar sobre a relação entre o trabalho com a leitura e a escrita dos gêneros discursivos/textuais e a necessidade de percebermos que alguns elementos tidos como “puramente gramaticais” são, na verdade, elementos que orientam argumentativamente os leitores para os possíveis sentidos objetivados pelos locutores/produtores de textos.