Desde o nascimento, o ser humano se confronta com o transbordamento libidinal que erotiza e fragmenta o seu corpo, revestindo o soma de significantes e fantasias. Essa arquitetura, característica dos primeiros tempos, jamais é abandonada por completo, dadas as moções pulsionais que, em certa medida, resiste às forças da Cultura. Em cada contexto histórico, o sexo e a sexualidade são regulados em nome de um ideal de sujeito e de civilização, de modo a represar o desejo, fazendo-o seguir por caminhos que não lhe são devidos. No Ocidente, por exemplo, deparamo-nos, ainda, com a prevalência de valores heteronormativos e patriarcais responsáveis por uma diáspora onde as plurimanifestações do sexual são recobertas pelo véu da patologia, do pecado e da imoralidade. O resultado é a promoção de uma erótica marcada pela degenerescência, cujos praticantes transformam-se, pois, em aberrações, anomalias e monstruosidades, catalogadas nos manuais médicos do século XIX como perversões. É a partir das contribuições de Sigmund Freud que tais arranjos perdem o status de doença e passam a compor os inúmeros cenários da subjetividade humana, a qual, cumpre dizer, encontra-se calcada na fantasmática do incesto (perversão originária). A psicanálise nos coloca, portanto, frente a uma origem que denuncia nossa comunhão com a devassidão de Eros. Essa pesquisa, alicerçada nas teorizações freudianas, busca desenvolver uma reflexão acerca do gozo sexual relativo à busca por imagens/textos que orquestram a prática do incesto. Para tanto, tomaremos como corpus a obra The Sin’s Son: Coming Soon, gênero HQ, adaptação da série televisiva americana Os Simpsons. Entre alguns questionamentos que motivam esse estudo, destacamos: de que maneira o artefato em questão possibilita o acesso ao gozo? Como os resquícios da sexualidade infantil delineiam o percurso do sujeito em busca de uma satisfação rarefeita e incompleta? Que fantasias entram no jogo voyeurista desse sujeito/leitor?