Quando se fala da relação entre teoria da adaptação e literatura, logo nos vem à mente uma série de instruções sobre como fazer a transposição de obras literárias para o universo cinematográfico, com destaque para aquelas que, por sua dinâmica narrativa, facilitariam consideravelmente o trânsito de um a outro espaço de representação. Todavia, o que aconteceria se a intenção fosse adaptar uma obra não literária, destituída de categorias narrativas tradicionais e de natureza declaradamente teórica, ao invés de artística, para o cinema? É com vistas a analisar essa questão, que nos propomos, neste trabalho, a discutir sobre os limites da teoria da adaptação cinematográfica, tendo por base a proposta (não concretizada) do cineasta russo Sergei Eisenstein de produzir um filme a partir da adaptação de O Capital, de Karl Marx, mesmo que esta não seja uma obra dotada de caracteres artísticos ou narrativos, usualmente considerados como itens essenciais para que o processo de adaptação venha a ser concretizado. Por tratar-se de referência que não só atualiza, mas, ao mesmo tempo, estabelece um diálogo crítico-expositivo com versões anteriores da teoria da adaptação, tomarei, sobretudo, o trabalho de Linda Hutcheon, como base teórica nesta discussão.