É difícil pensar/estudar sobre a literatura no Brasil sem, igualmente, problematizar as complexas práticas sociais de leitura que se estabelecem em nosso país. Em panorama desenhado pelo Indicador Nacional de Alfabetismo Funcional (INAF) e pela pesquisa de opinião Retratos da leitura no Brasil (ABREU, 2003), ambas realizadas em 2001, foi revelado que a desvalorização da leitura não se constituía como a principal fragilidade no respectivo cenário, apesar de ser esse o alvo das principais ações mediadas por instituições culturais e escolas: o convencimento sobre a relevância de ler. Há relação direta entre nível de escolarização e gosto pela leitura – quanto mais tempo na escola, maior a significação reservada à leitura e maior a influência que o professor exerce sobre ela. O que os Retratos e os dados do INAF apresentam em relação à leitura, no entanto, é um distanciamento crescente da prática literária à medida que os jovens saem da faixa etária escolar.
As possibilidades de ensino da literatura constituem-se como um complexo campo de estudo, sobretudo, devido à transitoriedade do objeto em questão, cuja definição está bastante atrelada às modificações sóciohistóricas que lhe são contemporâneas. Diante disso, as pesquisas acadêmicas em Ensino da Literatura vêm procurando, desde a década de 1960, analisar, compreender e fornecer subsídios para as metodologias através das quais se dá esta “escolarização” da arte literária, que não se confunde, segundo Soares (1999), com um processo pedagogizante, restritivo; mas com uma dinâmica inevitável da formalização, organização e planejamento do ensino da Literatura nas escolas.
Se, no entanto, um ensino básico despreparado para a construção do letramento literário constitui-se como uma das dificuldades situadas entre texto literário e leitor, quando destacamos o ensino médio, nos deparamos – conforme analisa o professor Aldo de Lima (2012) – com uma pedagogia do digesto: prática que exclui do ensino médio a leitura e a fruição da Literatura, assim como a reflexão crítica a seu respeito.
Assim, a importância crescente que as avaliações do Enem vêm assumindo a cada ano na realidade dos estudantes brasileiros, muito tem a revelar sobre a formalização e unificação dos nossos conteúdos de ensino. No nosso caso, mais especificamente, do ensino da Literatura. Logo, um estudo sobre esse sistema de avaliação pode nos revelar elementos importantes a respeito das competências e habilidades institucionalizadas em nossa sociedade e sistemas de ensino. No caso da literatura, inserida no grupo de Linguagens, Código e suas Tecnologias, interessa-nos saber se os procedimentos avaliativos estão em consonância com as atualizações da Teoria e dos Estudos Literários; quais objetivos os professores de Língua Portuguesa estabelecem para o ensino de Literatura no Nível Médio e de que forma estes objetivos são influenciados ou não pelo Exame Nacional do Ensino Médio e como isso intervém na prática docente.