Partindo do pressuposto de que a literatura, além de seu caráter ficcional e simbólico, sinaliza para a realidade, o presente trabalho tem como objetivo analisar, à luz dos estudos culturais, o processo de (re)construção identitária que sofre a personagem feminina, protagonista do conto “Milagre de celular”, que faz parte livro O Arqueólogo do futuro (2007), da escritora paraibana Maria Valéria Rezende. A pesquisa se caracteriza como bibliográfica baseada na análise crítico/interpretativa do conto em questão. O intuito é observar o fenômeno da dependência tecnológica e até que ponto essa dependência contribui para a emancipação identitária da personagem, que, por não possuir um aparelho celular, acaba sentindo-se excluída socialmente, fato que se concretiza no desenrolar da narrativa, que tem seu desfecho com a descoberta, por parte da personagem, do que vem a ser, de fato, a inclusão social. Falar de contemporaneidade implica trazer ao centro da discussão as contribuições teóricas de Bauman (2005), Hall (1999; 2014) e Silva (2014) acerca de identidade, pois em um contexto social de constantes modificações, as identidades se tornaram fluidas e solúveis, sendo assim, pode-se afirmar que a modernidade trouxe consigo ressignificações identitárias, estando estas à disposição dos indivíduos, que fazem das identidades um meio de inserção em determinados contextos. A simbologia é uma constância na narrativa em questão, e para enriquecimento das discussões, far-se-á uso das teorias de Bordieu (1989), que traz a simbologia concomitante às questões de poder, considerando os diferentes universos simbólicos e a construção e significação dos objetos no mundo a partir destas relações simbólicas, estabelecidas no âmbito social.