A configuração familiar vem se modificando ao longo da história, em decorrência de transformações ocorridas na sociedade. Nessa conjuntura de transformações, surge uma multiplicidade de arranjos familiares, dentre eles a homoparentalidade, comumente circundada de polêmica por escapar à heteronormatividade vigente na sociedade. Assim, crianças inseridas em famílias homoafetivas constituem uma realidade cada vez mais presente na sociedade e, consequentemente, nas escolas brasileiras, o que demanda uma reflexão a seu respeito, para que a escola contribua para o enfrentamento de possíveis estereótipos e preconceitos, de modo a ser um espaço de promoção e valorização da pluralidade e diversidade, aberto à convivência de diferentes grupos e culturas. Nesse sentido, o presente artigo objetiva analisar os discursos de professores/as, de escolas municipais da cidade de Campina Grande-PB, sobre as crianças cujos pais/mães vivem em condição de conjugalidade homoafetiva. Trata-se de um estudo qualitativo (MINAYO, 2009), que utilizou como instrumento a entrevista semiestruturada. Foram entrevistadas 12 professoras, de um total de 16 alunos/as inseridos/as em famílias homoafetivas, todas as entrevistadas do sexo feminino, cujas idades variam de 29 a 54 anos. Os dados foram analisados com base no método de análise de discurso proposto por Gill (2014). Percebeu-se, a partir dos dados obtidos, discursos que afirmam essas crianças como “normais”, o que parece contraditório, visto que o termo “normal” dispensa a necessidade dessa constatação, sobretudo quando atrelada a constante comparação. Ademais, foi perceptível que os discursos demonstraram que essas crianças ainda estão sendo frequentemente observadas e avaliadas em comparação às demais crianças, representando uma contínua vigilância sobre os efeitos da homoparentalidade sobre essas crianças, sendo possível a compreensão de que não estão sendo acolhidas com naturalidade no contexto escolar, chegando a serem, em alguns momentos, vítimas de práticas homofóbicas.