Desde o século XIX a literatura lança olhares sobre o espaço conflitante das cidades modernas e, sobre as vozes desiguais que habitam essas urbes. É a literatura representando a vida (CANDIDO, 2002), percebendo os movimentos urbanos para torná-los visíveis a partir do imaginário, trazendo à tona a cena moderna, constituída pela fragmentação do ser na multidão que habita o ambiente citadino. A partir do século XX esse olhar se amplia e a voz dos excluídos – aqueles mergulhados na incerteza, na violência e na solidão urbana – ressoa, mais fortemente, através das vozes poéticas. No Brasil, a poesia modernista, com destaque para a poética de Manuel Bandeira, traz o cotidiano dos excluídos, nos espaços heterotópicos e utópicos da cidade. Assim, este artigo objetiva analisar os espaços urbanos e suas formas de exclusão a partir da poética bandeiriana, em especial, nos poemas: Poema tirado de uma notícia de jornal e O Bicho. Estudo bibliográfico, de cunho qualitativo e interpretativista, este artigo está fundamentado, principalmente, nas noções de dialogismo (BAKHTIN, 2002) e heterotopia (FOUCAULT, 2006), além de contribuições advindas de Cândido (2002), Bueno (2000), entre outros. Conclui-se que os dois espaços urbanos, poeticamente constituídos por Bandeira empreendem um diálogo em que as formas de exclusão, ora compõem o cenário da cidade – uma heterotopia por excelência – ora acidentalmente, se torna espaço heterotópico, quando antes era utópico.