A literatura de cordel brasileira tem passado nos últimos anos por um momento de (re)valorização, onde torna-se alvo do interesse de estudantes universitários, pesquisadores da cultura popular, entre outros sujeitos sociais. Essa mudança decorre da revalorização dos movimentos culturais calcados na cultura popular, como afirma GALVÃO (2001, p.18): “Essa revalorização está pautada, na maioria das vezes, ao contrário do que ocorreu na década de 70, em uma re-significação, em um reordenamento, em uma atualização e em uma sofisticação de linguagens, [...]”. As mudanças observadas na literatura de cordel, e na cultura popular como um todo, refletem essas modificações, sem, contudo, esquecer as características que a identificam. Nesse panorama se insere a Literatura de Cordel que reconta histórias clássicas da literatura infantil. Nesses folhetos, ao mesmo tempo em que se reconta a história já conhecida por todos, reproduzindo e reforçando a memória, o poeta popular inevitavelmente cria uma realidade diferente, por vezes tornando-as mais atuais, num processo de amplificação, que “[...] implica desfazer/refazer um modelo instituído por acréscimos de novos atributos em irradiações que o presente ao passado envia, amplificando-lhe o espaço-tempo de sua ocorrência” (PALO; OLIVEIRA, 2003, p.60). Nesta perspectiva tomamos como corpus de pesquisa o conto “As Doze Princesas Dançarinas”, dos Irmãos Grimm, e a sua versão em folheto, intitulada “A Dança das Doze Princesas: um cordel contando contos”, de autoria de Manoel Monteiro. Buscamos examinar os indícios que apontam para esse processo de desfazer/refazer o padrão já instituído, por meio do acréscimo e/ou da supressão de elementos, como já adverte o poeta Manoel Monteiro em seu folheto: “Venho traduzindo para a língua do cordel vários contos tradicionais, no entanto, quase sempre, dou uma nova vestimenta ao desenvolvimento da história, atualizando o cenário, os termos, a mensagem.” (MONTEIRO, 2009, p.2). Objetivamos assim, realizar uma análise comparativa entre as duas literaturas, com base nos conceitos de Paródia, Intermidialidade e Tradução Intersemiótica, utilizando como principais aportes teóricos as contribuições de Lucrécia Ferrara (1981), Vladimir Propp (2001), Claus Clüver (2011) e Júlio Plaza (2003).