Propõe-se, nesta comunicação, um estudo sobre o modo como o escritor articula, em declarações públicas, as reflexões sobre a leitura, sobre o seu modo de ler e de escrever, ou seja, sobre como escreve suas memórias de leitura e as consequências desse fenômeno para a criação da imagem de leitor que interroga a tradição e a escrita da história literária. Pretende-se estudar os depoimentos de escritores sobre sua condição de leitor e as relações que, nesses depoimentos, estabelecem entre essa condição e o ofício de escritor e o modo como eles se inserem na série literária a que se filiam. Teremos como matéria privilegiada para análise os depoimentos de escritores apresentados na mídia impressa, em especial na revista Manchete. Será estudado, de modo detalhado, o depoimento do escritor mineiro Fernando Sabino, intitulado “Autocrítica de Fernando Sabino”. Entende-se que os depoimentos podem ser lidos como um modo de o indivíduo formar uma imagem de si, que pretende tão acabada quanto possível, e que supõe revelar uma identidade, por ser uma forma de escrita do eu, e, como tal, uma tentativa de ajustar o olhar do outro ao olhar que lança sobre si mesmo. O escritor mineiro Fernando Sabino escreve sua autocrítica falando sobre seu ofício. Trata-se de um texto com dicção de crônica e ensaio. Com um início altamente poético, o texto parece tomar um tom confessional, oferecendo ao leitor a possibilidade de se deparar com um texto de memória, de natureza literária. Para efetivar o estudo que se propõe tem-se como subsídio a obra Arqueologia do saber, além do ensaio “A escrita de si”, de Michel Foucault, e de outros teóricos e críticos de literatura que se encontram neste campo de reflexão como O pacto autobiográfico, de Philippe Lejeune, e Vale o escrito, de Silvia Moloy. Esse estudo pode evidenciar, também, o modo como os escritores questionam elementos da tradição literária. Para aprofundar este aspecto revisitaremos discussões sobre o cânone e a vida literária desenvolvidas por Leyla Perrone Moysés e Flora Sussekind.