Nesta comunicação, centraremos nossa atenção na relação entre língua e poder na construção da identidade. Nosso olhar estará voltado para o conto “Estória da galinha e do ovo”, publicado no livro Luuanda, obra escrita na prisão, datada de 1964, que retrata o bilinguismo da capital Luanda, onde o português, imposto como língua oficial, convive com o kimbundu, a língua materna, do lar e, por consequência, usada no cotidiano. Esta obra recebeu o prêmio literário angolano Mota Veiga, em 1964, e o Grande Prêmio de Novelística da Sociedade Portuguesa de Escritores, em 1965. Nosso autor, José Luandino Vieira, tornou-se conhecido por meio da revista Cultura, de 1957 e, após muita opressão, teve seu talento reconhecido internacionalmente. Sua atuação política reflete uma literatura engajada na luta pela independência e pela construção de uma identidade nacional. No caso da galinha e do ovo, o espaço é o musseque Sambizanga, bairro pobre e, portanto, vítima da discriminação e opressão econômica. O conto é uma mostra da luta, pelo discurso, da mudança social. O autor ajuda a reconstruir a cultura de um povo que, por muito tempo, foi desenraizada e fragmentada. Nossa análise demonstra que essa busca se dá no e pelo discurso, utilizando a linguagem como forma de prática social já que, ao construir o mundo, o discurso também constrói identidades sociais, estabelece relações que contribuem para a formação de representações sociais.