Este artigo é fruto de uma pesquisa que investigou o significado da experiência escolar na infância e as marcas deixadas pela escola do Centro de Atividades Comunitárias de São João de Meriti (CAC), com base nas narrativas de ex-alunos na juventude. O objetivo foi examinar se a leitura e a escrita permaneceram como atividades constantes na vida desses alunos, após a saída da escola, além de identificar práticas pedagógicas significativas. O CAC é uma instituição de utilidade pública, nascida dos movimentos populares na Baixada Fluminense, Rio de Janeiro. Utilizando uma metodologia qualitativa, o estudo teve como principais instrumentos a entrevista e a análise de documentos. Foram entrevistados oito jovens, que frequentaram a escola do CAC, entre 1989 e 1999. A pesquisa fundamentou-se nos estudos de Vygotsky, e contou com as contribuições teóricas de Charlot, Lahire, Bruner, Freire entre outros. A análise revelou uma dinâmica de interação nas relações sociais, marcada pela afetividade, destacando-se o relacionamento com os professores, o trabalho coletivo e a presença intensa de leituras compartilhadas e da escrita. Os depoimentos destacaram parcerias para o aprendizado, ampliação do universo cultural, desenvolvimento de valores ético-morais, relacionamento com as famílias dos alunos, presença de brincadeiras, valorização do coletivo e uma prática pedagógica onde predominavam situações de uso social real dos conhecimentos. Como uma comunidade de aprendizes, os jovens se viam como participantes da construção coletiva de uma "obra", uma cultura escolar, com a qual se sentiam comprometidos, conferindo-lhes orgulho, identidade e senso de pertencimento.