“Crianças trans existem?” é uma pergunta frequente e que parece incomodar profissionais de diferentes instituições que atravessam a vida de crianças. Em diálogo com Favero e Ambra (2023), o objetivo do presente trabalho é problematizar o “pânico moral” que opera nesse debate, pois a cisgeneridade se sente ameaçada pela existência trans e tenta controlar desde a infância qualquer manifestação que escape da binaridade das normas de gênero dominantes. Para tanto, analisamos algumas narrativas presentes nas experiências profissionais das duas autoras, uma como docente do campo da Psicologia e Educação na formação de professoras/es, e a outra como psicóloga no sistema de justiça, na área da infância e juventude. A partir das narrativas, observamos que o “olhar adultocêntrico cisheterocentrado” (Couto Júnior, Pocahy, Oswald, 2018), ao não reconhecer e acolher a existência de diferentes infâncias, pratica violências e dificulta a abertura para outras sensibilidades na relação entre profissionais e crianças em dissidências. Na leitura de Nascimento, Santos e Adad (2022), aceitamos o convite para “bailar com as infâncias” e repensar a educação e a proteção social com crianças, por meio de uma análise crítica da cisgeneridade e dos saberes psis.