Este artigo manifesto versa sobre o potencial de (trans)formação psicossocial do musical “Brenda Lee e o Palácio das Princesas” realizado pelo coletivo teatral Núcleo Experimental, frente a estrutura heterocisnormativa que insiste em desumanizar corpos/corpas/corpes e sexualidades dissidentes há décadas. Protagonizado por seis atrizes travestis, o espetáculo conta a história de Brenda Lee, ativista LGBTQIA+ e fundadora da primeira casa de apoio para pessoas com HIV/Aids, do Brasil. Além dos atravessamentos enquanto único ator LGBTQIA+ cisgênero do espetáculo e membro do Núcleo Experimental há 18 anos, esta pesquisa se pautou em materiais jornalísticos, críticas literárias e documentos que viabilizaram um arco histórico da "cena travesti" desde o pioneirismo do que se entendia por “transformismo” no Teatro de Revista, à inclusão dos debates sobre identidade, subjetividade e representatividade trans contidos nas produções contemporâneas e que o espetáculo promove. Diante da análise dos materiais, percebeu-se que o musical vem fomentando, sobretudo, o empoderamento de pessoas LGBTQIA+, bem como a construção de subjetividades, a desconstrução de estigmas em relação às capacidades artísticas de pessoas trans, além da significativa representatividade e visibilidade de corpas em espaços até então negados pela cisgeneridade e debates importantes sobre o protagonismo transvestigênere, no que se refere a própria narrativa e transcestralidade. O espetáculo musical, “Brenda Lee e o Palácio das Princesas”, vem se configurando como mais uma chave aliada à desconstrução e (re)existência criativa e não violenta, como diriam Foucault e Butler respectivamente, frente aos padrões normativos e compulsórios de gênero e sexualidade da atualidade.