INTRODUÇÃO O presente trabalho é parte de projeto de tese em desenvolvimento, propõem reflexões sobre os impactos da pandemia de Covid 19 na vida das juventudes. Sobretudo, consideramos como emoções relacionadas à vergonha, ao medo e ao isolamento foram afloradas, assim como o sentimento de resiliência para o enfrentamento aos obstáculos postos pelo contexto pandêmico e as expectativas com relação ao futuro pós-pandemia, especialmente com relação à escola. A pandemia de coronavírus chegou ao Brasil em março de 2020. A partir de então, o cotidiano foi afetado de maneira significativa, sobretudo no chamado período de “quarentena”, quando medidas de isolamento e distanciamento social foram impostas como prevenção ao contágio, e as rotinas precisaram ser reconstruídas, ainda que de forma precária. Para os jovens, objeto deste texto, a adaptação da rotina a atividades remotas e ao “ficar em casa” com a família trouxe impactos significativos. Com base nos relatórios das pesquisas "Juventudes e Pandemia do Coronavírus” (Conjuve), e “ConVid Adolescentes – Pesquisa de comportamentos” (Fiocruz) e em três reportagens1 que relacionam os temas juventude e pandemia, o presente texto visa compreender como o contexto pandemia afetou as emoções dos jovens. A análise dos relatórios e reportagens foi realizada a luz de referenciais da Sociologia das emoções e estudos do campo das Ciências Sociais sobre as juventudes. As pesquisas e reportagens analisadas demonstram que a falta do contato com amigos, da escola como espaço de socialização, a incerteza quanto ao futuro, conflitos familiares e medo do contágio pelo vírus se relacionam ao aumento de sentimentos como isolamento e nervosismo. A possibilidade de continuar estudando ou trabalhando de forma remota expuseram as desigualdades sociais, as quais afetaram diretamente a experiência das juventudes em meio a pandemia. Além disso, demonstram diferentes impactos relativos ao gênero quanto às emoções vivenciadas, bem como as formas de lidar com as mesmas. Os resultados alternam também com relação aos momentos da pandemia, demonstrando processo de adaptação e construção de estratégias para vivenciar esse contexto e apontando para a importância da resiliência. O retorno às aulas presenciais sinalizava, ao mesmo tempo, expectativa de reencontro dos amigos e retorno à normalidade, e vergonha em lidar pessoalmente com os colegas e as transformações na aparência física de cada um. Dessa forma, a compreensão dos efeitos do contexto pandêmico na vida dos jovens e seus desdobramentos até a atualidade tem importância para, dentre outras coisas, repensarmos a escola. Também permite pensar sobre possibilidades de ação dos jovens frente a um contexto extremo e complexo como tem sido a pandemia. METODOLOGIA (OU MATERIAIS E MÉTODOS) Para realização da proposta do presente texto, selecionamos alguns resultados dos relatórios pesquisas "Juventudes e Pandemia do Coronavírus” (Conjuve), e “ConVid Adolescentes – Pesquisa de comportamentos” (Fiocruz), que tratam sobre as emoções vivenciadas nesse contexto, saúde, conflitos familiares, dificuldades para dar continuidade aos estudos e projeções com relação ao futuro. Complementarmente, utilizamos três reportagens que abordam problemas vivenciados por jovens no contexto pandêmico, trazendo relatos de jovens de diferentes contextos e que enfrentaram diferentes impactos. Dessa forma, trabalhamos com dados secundários, quantitativos e qualitativos, que auxiliam na construção do cenário pandêmico e na indicação de caminhos para análises futuras. Além disso, propomos diálogo entre os dados citados e referenciais teóricos da Sociologia das emoções e da Sociologia das juventudes, bem como em pesquisas referentes ao contexto de pandemia. A leitura e análise dos dados foram realizadas com base em referências que apontam para a importância das emoções para a vivência da pandemia e para as percepções sobre o futuro pós-pandêmico. DESENVOLVIMENTO/REFERENCIAL TEÓRICO Com relação aos impactos da pandemia nas emoções vivenciadas pelas juventudes, bem como na importância das emoções como marcador dessa experiência, partimos de referenciais da Sociologia das emoções. Nessa perspectiva, com base nos estudos de Koury (2004, 2020, 2021), as emoções podem ser definidas s como construções sociais que se situam nas interações entre os atores sociais imersos em um contexto social e cultural. Deste modo, a sociologia da emoção parte do princípio de que “as experiências emocionais singulares (...) são produtos relacionais entre os indivíduos e a cultura e sociedade.” (KOURY, 2004, p. 89). Com relação à abordagem sobre as juventudes, consideramo-la de forma plural, nas experiências diversas e desiguais, dadas as diferentes conexões com outros marcadores sociais, como gênero, raça e classe, ainda que compartilhem entre si de uma mesma “condição juvenil” (Dayrell, 2007). A noção de condição juvenil se refere ao modo como uma sociedade significa esse momento do ciclo de vida e aos modos como essa é vivida (Dayrell, 2007, p. 1108). A associação entre tais abordagens compreende a análise do contexto pandêmico e das experiências subjetivas dos jovens. Suas percepções permeadas por emoções, compartilhadas em alguma medida, refletem os impactos vivenciados pela pandemia, e que ainda refletirão no futuro das juventudes. CONSIDERAÇÕES FINAIS As análises realizadas até aqui trazem resultados importantes para a continuidade do estudo, possibilitando a contextualização do problema de pesquisa proposto no projeto de tese. A relação entre os dados e as notícias indicam as seguintes tendências: continuar estudando no contexto de pandemia (sobretudo durante o ensino remoto) foi muito dificultoso, por questões materiais que obstaculizavam o acesso às aulas e por questões emocionais, ligadas aos conflitos familiares e a não adaptação a esta modalidade de ensino; A reconstrução da rotina ocorreu de forma precária para jovens e suas famílias; houve aumento da evasão escolar e desemprego, e também de sofrimentos emocionais, tendo a pandemia como causa; sentimentos de medo, isolamento e tristeza foram intensificados pela pandemia, sendo relatados de formas distintas com relação ao gênero; perda da possibilidade de experimentar marcos e experiências importantes para a juventude (amizades, relacionamentos, festas, encontros) como marca dessa geração; a volta às aulas presenciais trouxe expectativas positivas misturadas ao sentimento de vergonha da própria imagem, bem como o desejo de que a escola aborde questões socioemocionais. Foi possível verificar também que as experiências dos jovens no contexto pandêmico se mostraram também desiguais com relação a condições sociais e econômicas; importância da imaginação para visualizar outras possibilidades e da resiliência para enfrentar o isolamento. REFERÊNCIAS CONSELHO NACIONAL DE JUVENTUDE. Juventudes e a pandemia do coronavírus - 2º edição - Relatório nacional, Maio de 2021. Disponível em: https://atlasdasjuventudes.com.br/wp-content/uploads/2021/08/JuventudesEPandemia2_Relatorio_Nacional_20210702.pdf Acesso em: Junho de 2021. CONSELHO NACIONAL DE JUVENTUDE. Juventudes e a pandemia do coronavírus - Relatório de resultados, Junho de 2020. Disponível em: https://atlasdasjuventudes.com.br/juventudes-e-a-pandemia-do-coronavirus/ Acesso em: Julho de 2020. CONVID Adolescentes - Pesquisa de comportamentos. Disponível em: https://convid.fiocruz.br/index.php?pag=apresentacao_resultado_adolescentes Acesso em: Julho de 2021. DAYRELL, J. A ESCOLA “FAZ” AS JUVENTUDES? REFLEXÕES EM TORNO DA SOCIALIZAÇÃO JUVENIL. Educ. Soc. Campinas, v. 31, nº 100 – Especial, pp. 1105-1128, 2007 KOURY, M. G. P. As emoções em tempo de isolamento social. In.: KOURY, Mauro Guilherme Pinheiro (org.). Tempos de pandemia: Reflexões sobre o caso do Brasil. 1. ed. – João Pessoa: Grem-Grei; Florianópolis: Tribo da Ilha, 2020. KOURY, Mauro Guilherme Pinheiro. Cotidiano e pandemia no Brasil [livro eletrônico]: emoções e sociabilidades / Mauro Guilherme Pinheiro Koury. -- 1. ed. -- Recife: Mauro Koury : Grem-Grei Edições, 2021 KOURY, Mauro Guilherme Pinheiro. Introdução à Sociologia da Emoção. João Pessoa: Manufatura/GREM, 2004