Quando criança quem nunca ouviu uma historia misteriosa que lhe atiçou a imaginação e o medo? Todos os cantos do mundo possuem suas historias locais, responsáveis por constituir a identidade dos grupos sociais, e que podem ser uma fonte fecunda para o trabalho com o desenvolvimento de múltiplas capacidades cognitivas das crianças, ainda mais se analisado sob o prisma da interdisciplinaridade. Pensando nisso, o presente artigo objetiva explicitar a função educativa das lendas amazônicas no universo infantil, a partir de uma análise interdisciplinar, tanto no que tange à pesquisa quanto a análise dos dados. Para compreender o problema da pesquisa foram ouvidas as crianças da comunidade rural de Bom Socorro do Zé Açú, há 14 quilômetros do município de Parintins – AM. Através de entrevistas semiestruturadas, reproduções imagéticas (desenhos livres elaborados pelas crianças) e análises dos dados à luz de teóricos como Fazenda (2002,2001), Florestan Fernandes (1989) e Bruno Betelheim (1980) pode-se compreender que tanto a comunidade circundante, com a perpetuação da inteligência ecológica implícita nas lendas, quanto a escola, e suas disciplinas curriculares, podem utilizar as lendas amazônicas com uma abordagem educativa em relação às crianças, sendo que no ambiente escolar elas podem ser aliadas à abordagem interdisciplinar, considerando os alunos como produtores do conhecimento, de forma a perceber que todos os elementos do cotidiano, por mais simples que aparentem ser, só podem plenamente decifrados a partir da libertação das formas de pensamento convencionais e assumpção de novas formas de inteligência.