O presente trabalho tem como proposta apresentar um projeto de pesquisa realizado em uma escola estadual no baixo Amazonas, na qual sou professora de Sociologia. Este projeto foi contemplado pelo Programa Ciência na Escola( PCE) pela Fundação de Apoio a pesquisa no Amazonas – FAPEAM, que tem como proposta incentivar o processo de formação de estudantes, por meio do desenvolvimento de projetos de pesquisa nas escolas, e também na formação continuada dos professores. O projeto assim chamado “Escrevivências Sociológicas: Leitura de autoras indígenas e afro-brasileiras na construção de narrativas próprias dos estudantes do ensino médio, teve sua execução entre julho/dezembro de 2022. A Educação Básica tem por finalidade mobilizar o estudante para que busque o seu pleno desenvolvimento, assegurar-lhe a formação comum indispensável para o exercício da cidadania e fornecer-lhe os meios para progredir no trabalho e nos estudos posteriores. A Atualização das Diretrizes Curriculares Nacionais, Lei 9.394/1996 para o Ensino Médio concebe a juventude como condição sócio-histórico-cultural de uma categoria de sujeitos que necessita ser considerada em suas múltiplas dimensões, com especificidades próprias que não são restritas às dimensões biológica e etária, mas que se encontram articuladas com uma multiplicidade de atravessamentos sociais e culturais juvenis ou muitas juventudes. (BRASIL, 2018). A prática pedagógica amparada nas leis 10.639/2003 e 11.645/2008 no que se referem à diversidade étnico-racial. As Leis determinam que o ensino agora obrigatório de História e Cultura Africana, Afro-brasileira e Indígena irá contribuir para promoção do respeito e valorização à pluralidade cultural que deve reger a compreensão do processo de construção da memória e identidade da nação brasileira. Com base no que a escritora brasileira Conceição Evaristo (2008) nos evoca “Escrevivências” “as experiências de vida como alimento da escrita, a escrita do cotidiano, das lembranças”. Essa narrativa, por sua vez, permite aos estudantes conectar o que se vive com conceitos sociológicos e serve, portanto, a junção da realidade com o conhecimento científico. Assim a "Escrevivências" enquanto ferramenta metodológica apresenta uma nova forma de produção científica de conhecimento, localizada nos saberes de populações negras e indígenas. Conhecimentos ligados à memória, oralidade, histórias, trajetórias familiares e demais narrativas das classes trabalhadoras colocam os discentes da educação básica como sujeitos participativos de processo de ensino-aprendizagem, e ensinar nesse sentido é respeitar à autonomia, à dignidade e à identidade do educando (Freire, 2019). Ao trazer a "Escrevivências" para a sociologia no ensino médio, enquanto ferramenta metodológica, podemos ampliar o seu uso para além dos estudos literários e acadêmicos, e incorporar questões como racismo, desigualdades sociais, feminismo como assuntos a serem discutidos pelos estudantes e ter as escritas de si como norteador de análise sociológica. É por tanto um conceito que atravessa e é atravessado pelo pertencimento de quem escreve e pesquisa, nesse caso, o estudante. Esse processo amplia-se quando acompanhado de leitura de escritoras representantes desse estilo literário. A literatura indígena e afro-brasileira valoriza outros olhares e possibilita o desenvolvimento de práticas pedagógicas antirracistas na sala de aula e aos estudantes a identificação e afirmação de identidades até então ausentes nos espaços escolares. Conhecer a literatura de mulheres indígenas e negras é um ato de defesa de direitos e de formação pois permite ao estudante conhecer o protagonismo dessas mulheres colocando em questão as desigualdades e preconceitos raciais e de gênero, acreditando que toda pessoa tem algo para compartilhar; e que, ao registrar ou publicar, promove sentidos, reconhecimentos e uma compreensão de vida livre e ampla, essencial para que se conheça e se respeite uma sociedade tão diversa. A realização deste projeto foi uma fundamental importância para a construção de um cenário que propõe e incentiva a pesquisa na educação básica, como também incentiva o ato de ler e escrever que são habilidades fundamentais para que a escola cumpra seu papel como instituição social, qual seja, possibilitar que o aluno se aproprie do repertório de conhecimentos produzidos pela humanidade e, com isso, se torne apto à produção de novos conhecimentos. Para tanto, é indispensável o hábito da leitura e o domínio da escrita, visto que o conhecimento produzido pelas diferentes áreas do saber está registrado em livros, artigos, revistas, páginas da internet (GUEDES; SOUZA, 2011). A partir dessa aproximações, a minha pesquisa foi orientada pelas motivações que observei durante às minhas experiencias docentes em educação pública, a principio em uma escola de ensino médio na Bahia, na qual procurava encontrar uma jeito que fizesse sentido , tanto para eles quanto para mim, uma professora negra de sociologia. Neste sentido, o objetivo deste projeto guiada por uma pesquisa-ação participante incentivou o pensamento científico pela ótica da sociologia nos estudantes de ensino médio da Escola Maria da Graça, a partir da escrita de narrativas próprias pessoais, chamadas Escrevivências, e leitura de escritoras indígenas e afro-brasileiras e partir disso problematizar a sociedade afim pensar a desnaturalização da realidade social em que se vive, além de desenvolver nos bolsistas contemplados pelo projeto habilidades e competências gerais e específicas das ciências humanas e sociais aplicadas prevista no âmbito da Base Nacional Comum Curricular (BNCC) dos anos finais do ensino médio. As atividades aqui descritas ocorreram na Escola Estadual Maria da Graça Nogueira situada no município de Maués, no baixo Amazonas, localizada nas margens do Rio Maués Açu e em frente ao cartão postal da cidade, a famosa Ponta da Maresia, cheia de encantos, lendas e mistérios, local em que acontece a famosa festa do guaraná, este que é o Waraná princípio do conhecimentos para a etnia indígena Sateré Mawé. É neste cenário que muitos estudantes descem para fotografar, para pegar o transporte fluvial escolar, para conversar com os amigos, para jogar, para nadar, é simplesmente um cenário Amazônico e suas vastas possibilidades de aprendizagem. A metodologia deste projeto tem como objetivo contribuir para investigação participativa do estudante, os estudantes envolvidos foram convidados à participar de um Clube de Leitura, sua adesão se deu através da sensibilização do uso da biblioteca escolar bem como o fomento a leitura entre os bolsistas, disponibilizando acervo de literatura negra e indígena em acervo pessoal do coordenador /doação de livros / livros do acervo da biblioteca. Pretendeu-se no desenvolvimento desse projeto a aproximação do estudante do ensino médio com a abordagem científica em Ciências Sociais/ Sociologia, com uma linguagem específica, facilitando o ingresso dos jovens em ambiente acadêmico. A abordagem da literatura contribuiu para a formação de novos escritores em âmbito local. Além disso, experienciamos uma didática pedagógica do feminismo negro no uso das Escrevivências como metodologia de ensino de sociologia, o que se mostrou potencial ferramenta metodológica de ensino. REFERENCIAS BRASIL. Lei no 10.639, de 9 de janeiro de 2003. Altera a Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996, que estabelece as diretrizes e bases da educação nacional, para incluir no currículo oficial da Rede de Ensino a obrigatoriedade da temática ‘História e Cultura Afro-Brasileira’, e dá outras providências. Diário Oficial da União , Brasília , 10 jan. 2003. Disponível em: <Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2003/L10.639.htm >. Acesso em: 01 out. 2021. BRASIL. Lei 11.645, de 10 de março de 2008. Altera a Lei no 9.394, de 20 de dezembro de 1996, modificada pela Lei no 10.639, de 9 de janeiro de 2003, que estabelece as diretrizes e bases da educação nacional, para incluir no currículo oficial da rede de ensino a obrigatoriedade da temática “História e Cultura Afro-Brasileira e Indígena”. Brasília, 2008. BORGES, Rosane. Escrevivência em Conceição Evaristo: armazenamento e circulação dos saberes silenciados. 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