O romance La Femme aux pieds nus tem o caráter autobiográfico, uma vez que, apresenta relação com própria infância/adolescência da autora, Mukasonga. Assim, partimos da vertente do resgate das memórias da escritora, de modo que, pelo enredo da obra se observa o retorno da narradora/personagem sobre estes períodos da sua vida, que são simultâneos a um tempo correspondente ao pré-genocídio dos Tutsi, em Ruanda, no início da década de 90. É importante compreender o processo da formação da memória como aquilo que é uma representação do que foi o passado, mas que se mescla com os sentimentos do futuro, a partir de um distanciamento dos fatos, se constituindo como uma representação do real borrado pelo tempo. Porquanto, insurge como objetivo deste trabalho a análise da escrita de si, em uma obra, na qual se confundem os elementos da narrativa narradora/personagem com a própria autora, bem como a relevância da escrita de obras de autoria feminina como ferramenta de resiliência e resgate da história de uma sociedade. Este trabalho é de cunho bibliográfico cuja proposta didática se baseia no levantamento do referencial teórico e aplicação da interpretação no romance em análise. Apresenta-se-á em linhas gerais as definições tangentes à memória e literatura de testemunho, bem como a sua relação com a história de uma sociedade. Para tanto, recupera-se as contribuições teóricas de Nora (1984), Ricœur (2007) e Salgueiro (2012) para trabalhar a conceptualização de memórias e literatura de testemunho, dentre outras, e Pollak (1992) na relação entre memória e identidade social.