Na luta pelo reconhecimento e (re) apropriação do legado epistemológico e cultural, os grupos oprimidos resistem ao “sistema-mundo moderno-colonial” (QUIJANO, 2005), por meio da cultura popular “resistem ao sistema sem relação direta a ele” (DUSSEL, 1997). Entendemos que a cultura popular é a mais notável manifestação sócio cultural da ação das camadas populares, produzida pela leitura de mundo que as pessoas realizam sobre a realidade e que a escola é um local propício para as expressões e repertórios da cultural popular ( FREIRE, 2006). O local desta pesquisa é a Vila Cachoeira , comunidade ribeirinha às margens do Rio Cachoeira, Ilhéus/Ba, atualmente pouco mais de 200 famílias residem na localidade. A pesquisa objetivou identificar e analisar as expressões da cultura popular local presentes nos processos educativos dos estudantes e compreender conceitos fundamentais à importância da salvaguarda do patrimônio imaterial da cultura popular. Propomos uma análise qualitativa com aproximações etnográficas o que nos exigiu inserção na comunidade e convívio com o cotidiano dos colaboradores (LARCHERT, 2017), conhecendo-os em seus etnoespaços, etnotextos. O rio Cachoeira, o etnoespaço mais significativo da comunidade é elemento cultural estruturante na vida das crianças, nele divertem- se, pulam por suas pedras a caminho da escola, constroem imaginários, enredos de vidas infantis, mas que também sustenta algumas famílias. Durante a inserção ficou evidenciado o abandono do poder público no que tange a educação das crianças, a gestão da escola não acompanha o cotidiano da unidade escolar, não são realizadas reuniões periódicas com as famílias dos alunos nem com toda equipe da escola. Constatamos que a escola não estabelece o mínimo de conexão com os elementos da cultura popular, negando por vezes a oportunidade dos (as) alunos(as) exporem nos seus etnotextos da riqueza da cultura local, mas também os desafios de viver em uma comunidade mergulhada na vulnerabilidade social.