A constatação da persistência de práticas sociais que depreciam a expressão do gênero e exercício da sexualidade que divergem do modelo hegemônico, pautado na heterossexualidade, torna emergente a necessidade de questionar-refletir-repensar os dizeres, saberes e fazeres, que contribuem para a manutenção de tais práticas. Empreender um exercício dessa natureza requer, dentre outras coisas, lançar um olhar crítico para o papel das instituições sociais nessa dinâmica, sobretudo daquelas que são consideradas como as principais/primeiras responsáveis pelo processo de socialização/humanização, a saber: a família e a escola. A temática da diversidade sexual e de gênero convocam a família e a escola para o exercício de repensar as práticas sociais que difundem cotidianamente a este respeito. Considerando a importância dessas duas instituições, o presente trabalho tem por objetivo tecer uma reflexão sobre o papel da família e da escola acerca da manutenção e desestabilização de modelos hegemônicos no tocante a expressão do gênero e exercício da sexualidade. Para tanto, fez-se um recorte de análise de duas reportagens veiculadas no site Uol Educação em setembro de 2012 e fevereiro de 2013, respectivamente trazem como manchete o seguinte: “Escola no Japão distribui cartilha de diversidade sexual a crianças e adolescentes”; “Pais denunciam escola por proibir criança transgênero de usar o banheiro das meninas”. As reportagens desperta reflexão no que se refere à decisão da administração da escola de que a criança deveria deixar de utilizar o banheiro do gênero ao qual se identificava (feminino) passando a usar o banheiro masculino, da enfermaria ou dos funcionários. Tal prática incorre em discriminação da identidade de gênero, delimitando espaços legítimos e criando zonas de ilegitimidade, além de evidenciar a posição conservadora da escola e sua dificuldade em lidar com a diversidade. Essa experiência pode ser compreendida como uma iniciativa, ainda que minoritária, que contribui para a desestabilização de estereótipos de gênero, destacando a possibilidades de práticas sociais no ambiente escolar de valorização e acolhimento da diversidade. Experiências como estas, tornam emergente a importância da adoção de uma gramática de gênero, por parte da escola, que compreenda as diversas expressões de gênero, para além da dicotomia masculino e feminino. Algo a se enfatizar também é em relação a importância do reconhecimento, acolhimento e aceitação dos pais da identidade de gênero a qual se identifica a criança, visto que eles são peças fundamentais na constituição da identidade desta. Isto fica evidente na reportagem que expõe sobre a criança transgênero, visto que esta nasceu menino e identifica-se como menina, sendo algo que seus pais reconhecem e aceitam, destacando-a como sujeito que tem direitos sobre seu corpo, seus pensamentos, seus valores e atitudes do que seja sua identidade de gênero. Portanto, o apoio da família juntamente com a participação da escola são fatores importantes para a construção e exercício de identidades de gêneros que, mesmo destoando do modelo dominante, serão acolhidas e respeitadas na expressão de sua diversidade.