Este estudo com jovens compreendeu a adolescência/juventude enquanto um período da vida propício para construção da autonomia em relação à família e palco de experimentações afetivas e sexuais, constituindo-se numa fase decisiva para a consolidação de uma rede de significações em torno da sexualidade e dos papéis de gênero, determinante para a firmação de características e potencialidades no processo de constituição da subjetividade dos sujeitos. Dentre os múltiplos determinantes que condicionam as relações de gênero e os significados imputados ao “ser homem” e “ser mulher”, a religiosidade constitui-se numa instância importante da vida que regula as relações sexuais e de gênero. Nesse sentido, a presente pesquisa se propôs a compreender como jovens e adolescentes de uma escola pública na Área Continental de São Vicente, a partir de suas próprias trajetórias de vida e de suas vivências da religiosidade, atribuem significados ao “ser homem”, “ser mulher”, às relações afetivas e à sexualidade no intuito de contribuir com as políticas públicas voltadas para a juventude. O procedimento utilizado para coleta de dados foi a realização de entrevistas semiestruturadas com sete moças e um rapaz entre 15 a 18 anos, sendo seis jovens evangélicas/os e dois sem adesão institucional à comunidades religiosas. Entre os resultados, chama atenção a importância que a religiosidade assume na vida dos/as jovens, orientando suas visões de mundo e, inclusive, os significados que estes/as atribuem aos papeis de gênero e às relações afetivo-sexuais, além de se constituir numa instância diretamente associada ao enfrentamento de situações difíceis na vida de parte das jovens, como a morte de entes queridos/as, decepções nas relações afetivas e violência de gênero. Também foram identificadas algumas especificidades da vulnerabilidade dos/as jovens evangélicos/as entrevistados/as ao HIV/AIDS/DST, associados à ideia de que a opção por manter a virgindade até o casamento e o relacionamento com uma só pessoa funcionariam como mecanismos de proteção que os/as diferenciariam dos/as jovens que não são evangélicos/as e os/as manteriam mais protegidos/as. Embora a escola se constitua no principal meio de divulgação de informações sobre métodos contraceptivos e doenças sexualmente transmissíveis entre os/as entrevistados/as, percebe-se que as temáticas de gênero e sexualidade ainda enfrentam resistências no contexto escolar e que a abordagem da sexualidade, quase sempre é vinculada à disciplina de Biologia e restrita ao estudo do sistema reprodutor feminino e masculino e ao conhecimento das DST e dos métodos contraceptivos, não se colocando na pauta da discussão o debate da diversidade sexual e as diferentes posições que homens e mulheres ocupam na hierarquia de gênero. Com a análise realizada foi possível compreender que para as e os jovens possam, de fato, ter acesso aos direitos sexuais e reprodutivos, além de ser necessário que os programas voltados para a saúde sexual e reprodutiva contem com o protagonismo destas/es nas suas formulações, é essencial que as políticas públicas de saúde, educação, habitação, assistência social trabalhem de maneira articulada nos territórios onde as moças e os rapazes estão inseridas/os e as/os considerem enquanto sujeitos autônomos capazes de gerir a própria vida afetiva-sexual.