Artigo Anais VII ENALIC

ANAIS de Evento

ISSN: 2526-3234

O PIBID DA DISCÓRDIA: QUANDO A BOLSA TRAZ A DESARMONIA

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Quando professores não agraciados pela bolsa dificultam as ações pibidianas e quando a direção, discordando da escolha do Pibid em atribuir a bolsa a um determinado docente, não abraça o Programa como uma atividade colaborativa, todos perdem e o Pibid deixa de atingir seus objetivos. Como coordenador institucional do Pibid, neste relato, apresento algumas situações em que o distrato dado ao Pibid influencia negativamente na formação docente inicial e traz um clima desarmonioso para a comunidade escolar e, consequentemente, para a acadêmica. Eu sei que a maioria dos trabalhos sobre o Pibid apresentados em eventos e publicados em revistas focam nos resultados positivos do Pibid, mas , é importante, entretanto, socializar as barreiras que tem surgido para que os participantes do Pibid, em todas as modalidades, principalmente os coordenadores institucionais possam compartilhar suas frustações no intuido de amenizar essas e outras adversidades. A literatura que evidencia os benefícios e os sucessos do Pibid é quase infinda, mas pesquisas como, por exemplo, a de Reis e Cardoso (2012), que fazem um levantamento sobre as dificuldades de desenvolvimento das atividades são raras contribuições, mas igualmente importantes para que os demais se preparem para o enfrentamento. Apresento dois tipos de situações que interferiram em variados graus na qualidade das atividades do Pibid, todas envolvendo disputa por bolsas. 1. Quando a escola é desarticulada, os professores atuam como profissionais independentes, sem recorrer aos demais para propor ações conjuntas. Em ambientes assim, quando um programa aparece e agracia apenas um ou alguns professores, é muito provável que a inveja e a sensação de injustiça surjam: "Por que só ele recebe essa bolsa? Que critérios obscuros são esses que me impedem de ganhar também uma bolsa dessas? Vou reclamar lá na Prefeitura! É uma grande injustiça aquele professor ser bolsista e eu não." Certa professora queixou-se argumentando que havia prestado serviço à universidade recebendo estagiários há uma década e que, por uma questão de justiça, deveria ser incluída no Pibid como supervisora. Como não conseguiu aprovação na seleção realizada em sua escola, reagiu de maneira vingativa: proibiu seus alunos de participarem de qualquer atividade do Pibid e deixou de receber estagiários. Um professor de outra escola também se recusou a receber estagiários em suas salas, pois indagava: "por que trabalharia de graça, quando outros colegas estão recebendo a mais para receber alunos da universidade?". Noutra escola, uma professora resolveu aceitar apenas os licenciandos do Estágio Supervisionado em suas turmas, proibindo os pibidianos: "estagiário, eu deixo; se for do Pibid, não". Esses e outros casos similares mostram como o não agraciamento da bolsa pode gerar uma mágoa que divide a escola, um clima de rixa prejudicial aos licenciados, que poderiam trabalhar com um público mais diversificado, e aos alunos, que deixam de participar de atividades instrutivas diferenciadas. 2. Houve uma situação em que o professor aprovado para ser o supervisor do Pibid não era a opção mais desejada pela direção da escola. A questão não era de competência docente ou dalguma habilidade para se desempenhar o papel, mas, mais uma vez, era a bolsa. O desconforto por parte da diretora era explícito e isso se refletia num desamparo administrativo ao trabalho pibidiano. As salas disponíveis aos licenciandos frequentemente ficavam trancadas e outros espaços de uso comum também não lhe eram disponibilizados. Os licenciandos eram como fantasmas ali, não se sentindo como parte do grupo. Retirar-se dali aparentemente era uma alternativa eficiente, mas também seria uma punição aos seus alunos, que viam no Pibid uma oportunidade de melhorarem seu aprendizado. O Pibid 2018, lançado pelo Edital 7/2018/CAPES (Capes, 2018), diferiu das demais edições por aproximar mais as secretarias de educação às universidades na construção dos projetos institucionais e na organização da distribuição do Programa nas escolas, de acordo com as áreas de conhecimento desejadas. Dessa vez, as direções escolares tiveram uma função maior na disponibilidade de suas escolas para o Pibid e o novo Programa Residência Pedagógica. A consciência de sua função para com o Pibid deve ir para além dessa parte burocrático-administrativa. Uma maneira de se evitar o clima de disputa e de inimizade entre os professores de sua escola é fazer com que a Escola entenda que o Pibid não é um programa de um ou outro professor, mas de todos ali. Um professor é o bolsista, o supervisor, mas não o dono do Programa, não representante único da escola ali. Suas ações são para todos da escola e não para uma parcela de "escolhidos". Quando a direção e a coordenação pedagógica se inteiram das atividades pibidianas e consegue articular todos os professores de uma determinada área de conhecimento daquela escola, o projeto passa a ser de todos e não de um. Se o problema é meramente financeiro, a direção deve conversar com os envolvidos e intervir na contenda. Propostas de rodízio de participação ou a divisão informal das bolsas tem sido estratégias que algumas escolas apresentaram para tornar a bolsa mais distributiva. Para tanto, os coordenadores de área precisam se esmerar em aglutinar a direção, os professores (bolsistas e não bolsistas), os licenciandos e os alunos. Fernandes, Sisla e Nascente (2016) mostram como uma forte articulação entre todas essas pessoas favorece um enriquecimento compartilhado. Ninguém pode ficar alheio ao que o Pibid lá propõe. Quando se conhece verdadeiramente o valor das ações do Programa e os frutos que a escola pode colher com ele, não há professor ou diretor que, não sendo um alienado de seu papel social, atravancará o compartilhamento dos benefícios da Educação e da formação docente. Palavras-chave: Pibid, bolsas, desafios, integração Referências Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior - CAPES. Edital n. 7, de 1º de março de 2018. Chamada pública para apresentação de propostas ao Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência (Pibid). Disponível em . FERNANDES, J. R.; SISLA, H. C.; NASCENTE, R. M. M. Pibid como espaço de formação docente. Educação, Porto Alegre, v. 39, n. 3, p. 291-301, set.-dez. 2016. REIS, J.; CARDOSO, M. R. Dificuldades encontradas pelos bolsistas do Pibid Biologia do IFSuldeMinas-Campus Machado para colocar em prática o Programa nas escolas públicas participantes. 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Publicado em 03 de dezembro de 2018

Resumo

O Programa Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência (Pibid) é um programa que visa incentivar a carreira docente por meio de atividades no ambiente escolar que permitam a vivência dos licenciandos em situações que os permitam entender a relação teoria-prática e resolver problemas reais do cotidiano escolar. Além disso, segundo a Capes (2018), o Pibid tem como objetivos a mobilização dos professores da Educação Básica para atuarem como coformadores desses futuros docentes. Observei, no entanto, várias situações em que as escolas acabaram não cumprindo o papel de propiciar aos licenciandos um espaço harmonioso para sua formação docente. Há casos em que tanto a direção quanto o corpo docente impediram ou dificultaram as atividades pibidianas. Um clima de descontentamento pode ser instaurado caso a presença do Pibid na escola mostre-se como um presente oferecido a poucos. 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A literatura que evidencia os benefícios e os sucessos do Pibid é quase infinda, mas pesquisas como, por exemplo, a de Reis e Cardoso (2012), que fazem um levantamento sobre as dificuldades de desenvolvimento das atividades são raras contribuições, mas igualmente importantes para que os demais se preparem para o enfrentamento. Apresento dois tipos de situações que interferiram em variados graus na qualidade das atividades do Pibid, todas envolvendo disputa por bolsas. 1. Quando a escola é desarticulada, os professores atuam como profissionais independentes, sem recorrer aos demais para propor ações conjuntas. Em ambientes assim, quando um programa aparece e agracia apenas um ou alguns professores, é muito provável que a inveja e a sensação de injustiça surjam: "Por que só ele recebe essa bolsa? Que critérios obscuros são esses que me impedem de ganhar também uma bolsa dessas? Vou reclamar lá na Prefeitura! É uma grande injustiça aquele professor ser bolsista e eu não." Certa professora queixou-se argumentando que havia prestado serviço à universidade recebendo estagiários há uma década e que, por uma questão de justiça, deveria ser incluída no Pibid como supervisora. Como não conseguiu aprovação na seleção realizada em sua escola, reagiu de maneira vingativa: proibiu seus alunos de participarem de qualquer atividade do Pibid e deixou de receber estagiários. Um professor de outra escola também se recusou a receber estagiários em suas salas, pois indagava: "por que trabalharia de graça, quando outros colegas estão recebendo a mais para receber alunos da universidade?". Noutra escola, uma professora resolveu aceitar apenas os licenciandos do Estágio Supervisionado em suas turmas, proibindo os pibidianos: "estagiário, eu deixo; se for do Pibid, não". Esses e outros casos similares mostram como o não agraciamento da bolsa pode gerar uma mágoa que divide a escola, um clima de rixa prejudicial aos licenciados, que poderiam trabalhar com um público mais diversificado, e aos alunos, que deixam de participar de atividades instrutivas diferenciadas. 2. Houve uma situação em que o professor aprovado para ser o supervisor do Pibid não era a opção mais desejada pela direção da escola. A questão não era de competência docente ou dalguma habilidade para se desempenhar o papel, mas, mais uma vez, era a bolsa. O desconforto por parte da diretora era explícito e isso se refletia num desamparo administrativo ao trabalho pibidiano. As salas disponíveis aos licenciandos frequentemente ficavam trancadas e outros espaços de uso comum também não lhe eram disponibilizados. Os licenciandos eram como fantasmas ali, não se sentindo como parte do grupo. 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