A proposta deste trabalho é refletir sobre como se dá a construção (e desconstrução) de feminilidades e masculinidades nos filmes da Marvel Studios e DC Films. Parto do entendimento de cinema como manifestação e produto cultural com impacto social, com potencial de informar, criticar, reforçar e subverter modelos. Masculinidade e feminilidade são performances de gênero, culturalmente construídas, os filmes analisados também são elementos desta construção social de gênero. Combino elementos intrínsecos (código visual e narrativa) e extrínsecos (relações contextuais e críticas) na análise dos filmes-objetos.
Super-heróis e super-heroínas são trabalhados aqui como dispositivos, a partir de uma conceitualização foucaultiana, que podem regular feminilidades e masculinidades, mobilizando discursos. Fissuras podem desmontar dispositivos, mas estes se remontam, mesmo que abarcando novos discursos, como o feminismo incorporado pela “cultura pop”. Até que ponto e por quais caminhos estas construções fílmicas evocam um modelo de masculinidade e um modelo de feminilidade cristalizados, compartilhados e formatados ou provocam abalos nestes modelos?
Heroínas, como Mulher-Maravilha da DC, são personagens empoderadas e ícones feministas, e, ao mesmo tempo, objetificadas e sexualizadas, reforços de perspectivas machistas, possivelmente pelo contexto quase inteiramente masculino da indústria em que estão inseridas. Esta ambiguidade norteia diversas produções fílmicas aqui analisadas, uma contradição que desperta o interesse da pesquisa. São dispositivos que empoderam mulheres invertendo um modelo de feminilidade associado à fragilidade, mas são marcadas em suas construções como objeto e prazer visual, como, por exemplo, a Viúva Negra da Marvel.