Em “Niketche: uma história da poligamia”, obra escrita pela moçambicana Paulina Chiziane, publicada em 2002, a autora retrata a vivência das mulheres que se encontram em um relacionamento poligâmico e como tal relacionamento é utilizado como forma de controle e de demonstração de poder masculino sobre corpos femininos, sendo mantido através do forte entrelaçamento cultural, social, histórico, econômico e religioso. A protagonista da obra, Rami, após descobrir que o marido mantinha uma relação poligâmica irá atrás das outras mulheres e em conjunto com elas irão tecer uma rede de união, autodescoberta e subversão da situação feminina em Moçambique. A partir de estudos pós-coloniais, do estudo sobre dispositivos de controle sexual e da importância da escrita feminista, este artigo busca refletir sobre a sexualidade feminina. Iremos compreender que a construção das personagens femininas, na obra, não segue o modelo tão enraizado nos nossos imaginários que provem de narrativas europeias ou americanas. E sim, de mulheres que vivem em uma sociedade fortemente marcada pela colonização e tentam subverter, utilizando os métodos disponíveis, uma sociedade na qual a figura masculina deve ser tratada como um ser divino.