Os reality shows se firmam, dentre as diversas produções televisivas da contemporaneidade, como uma mídia que continua se inovando, ao explorar os limites das suas referências sociológicas, narrativas e comunicacionais, ao passo que também recupera modelos de sua breve história enquanto gênero de programa televisivo para usá-los como estratégia de audiência ou como resposta à emergência de alguma temática abordada em suas versões anteriores. Este estudo propõe refletir, junto aos episódios da primeira temporada de Queer Eye (2018), sobre como se organiza o centralismo do olhar lançado aos corpos em cena e em como a retomada da mesma técnica do relance gay para aprimoramento do visual heterossexual, inaugurada em Queer Eye for the Straight Guy (2003-2007), estaciona o semblante em uma posição de diálogo com a cultura imagético-estético-visual que, tão atual, revalida a persistência do corpo enquanto objeto de inscrições multilaterais, não apenas pelas óticas que se dedicam a teorizá-lo, mas, sobretudo, pelo olhar mesmo do outro. Partindo de Lacan (1988, 1990) com o trompe-l’oeil (tapeação-do-olho), o dompte-regard (doma-olhar) e a televisão, logo se vem pensar acerca da desmaterialização da imagem na cultura conforme Mitchell (2002) e do voyeurismo escópico cotidiano apontado por Žižek (1989, 2004, 2010) como aquele indissociável deste mundo líquido, fílmico e hipervirtual vigente por meio das aparências. O debate almeja indagar até que ponto se situaria uma ordem regulatória sobre os modos de aparentar-se/de parecer ser entre a comodificação dos Fab Five e a interpelação das suas sexualidades para além do visível neste show da realidade.