Esse artigo tem por objetivo apresentar uma reflexão sobre o relógio como instrumento de medida do tempo e como elemento de cultura, constituidor e constituinte dos usos e costumes de boa parte das sociedades ocidentais. Partindo de um levantamento realizado em pesquisa de mestrado, a ideia para esse artigo é tratar teoricamente o tema da mensuração do tempo, enfocando seu caráter social e também biológico, culminando na compreensão do relógio como um elemento que vai se inscrevendo na história da humanidade de modo basilar. Presente na maior parte das sociedades antigas devido a questões relacionadas à religião, que envolvem os rituais, e à produção agrícola, que demanda certo controle quanto às estações, o ato de medir o tempo nasce da união entre ancestralidade e necessidade, mediadas pelo ato de observar a realidade concreta do universo. Responsável pelo surgimento dos estudos do que hoje chamamos de astronomia e também da astrologia, o exercício de olhar o mundo e pensa-lo, na junção de mística e ciência, funda as muitas tentativas de sistematização do tempo. Assim, por não existirem relatos e vestígios que os precedam, sumérios, egípcios, maias, babilônios e árabes dividem o título de primeiros povos a desenvolver formas de medir o tempo que deram origem às duas organizações de que mais fazemos uso ainda hoje, são elas, o calendário e o relógio. De modos de organizar a modos de se compreender no mundo, o relógio figura como elemento concreto, incidindo nas experiências cotidianas, mas também simbólico, sendo entendido de diferentes maneiras e forjando constituições identitárias específicas de acordo com o contexto em que se insere.