Um dos princípios da teoria formulada por Bakhtin e o círculo é o de que a linguagem consiste em uma atividade essencialmente social e heterogênea, a qual se apresenta perante o pesquisador de forma multifacetada, em sua dimensão plural, múltipla, densa. Nessa perspectiva, a linguagem é constituída socialmente pela alteridade, numa relação intersubjetiva mediada por múltiplos pontos de vista, os quais concretizam os diversos lugares sociais de circulação dos textos na esfera sócio-ideológica. Este estudo pretende analisar o gênero discursivo em redações do Enem, propondo formas de análise e construção textual, considerando a arquitetônica discursiva, e estratégias linguístico-enunciativas que podem ser criadas pelo sujeito-autor para argumentar. Fundamentamo-nos na Teoria Dialógica do Discurso formulada por Bakhtin (2006, 2010, 2012), Medviédev (2016 [1928]) e Bakhtin/ Volochinov (2012 [1929]) e seus interlocutores, tais como Almeida (2013), Brait (2012). O procedimento metodológico apresenta bases para a construção do texto dissertativo-argumentativo, pautado em competências propostas pelo ENEM. Entende-se que, no gênero discursivo “dissertação argumentativa”, o sujeito-autor pode criar (no ato da comunicação e da interação verbal) efeitos de sentido desejados para que os leitores alcancem uma compreensão da construção textual, uma vez o foco não está na mensagem, e sim no “como” a mensagem está sendo produzida. Como resultados, temos a análise de trechos de uma redação dissertativa que atende aos princípios propostos pela teoria dialógica do discurso. Assim se dá o efetivo processo de constituição intersubjetiva no discurso educacional. As análises revelam que essa modalidade oferece aos participantes da sala de aula modos de interação entre autor, leitor e texto, e de produção de sentidos possíveis do texto em questão.