A escola é instituição em que os conflitos necessariamente se manifestam. É necessário sempre tratá-los, discutindo-os a partir de uma ordem culturalmente definida, da qual fazem parte as representações sociais. Cabe lembrar que as representações sociais de docentes tanto envolvem seu status profissional quanto influenciam o manejo de conflitos. A partir da noção da indisciplina como uma situação de conflito relacional na escola, cuja gestão é necessária para reduzir chances da aparição de violências, levantou-se a hipótese de que as representações sociais de docentes marcam o modo como tais profissionais se posicionam subjetivamente diante da indisciplina discente. Assim, objetivou-se nesta pesquisa, no contexto de uma atividade de formação continuada produzida por meio de grupo de reflexão, analisar as representações sociais de professoras da educação infantil sobre a indisciplina de seu alunado. A coleta de dados se deu em uma pesquisa-ação com professoras da educação infantil da rede municipal de João Pessoa (PB). Nas atividades de intervenção, eram favorecidas discussões que permitissem conhecer os saberes comuns ao grupo em torno da indisciplina discente. Seis encontros em grupo se deram numa periodicidade semanal e tiveram duração de três horas cada. Neles se discutiu, entre outros temas, como cada docente interpretava e pensava a indisciplina discente, além de como elas lidavam com essas situações em seu cotidiano. Por meio do registro audiovisual e transcrição das falas das participantes das discussões, foi possível acessar as representações sociais das docentes, examinadas com base na técnica da análise da enunciação. Paralelamente à análise dos dados, a pesquisa-ação prosseguiu com o intuito de acompanhar as intervenções que as docentes em processo de reflexão promoviam no cotidiano de suas salas de aula, de modo a apreciar se (e, em caso positivo, como) o conteúdo e os efeitos da reflexão repercutiam na prática das docentes participantes. Esse acompanhamento produziu, além das falas nas reuniões para reflexão, entrevistas individuais abertas, cujo conteúdo também foi analisado pela mesma técnica de tratamento dos dados. As entrevistas e as reflexões grupais foram ocasião para discutir com as participantes sobre indisciplina de seus(suas) discentes, tomando por base a teoria winnicottiana sobre os aspectos subjetivos que se manifestam em situações de interação grupal. As representações sociais identificadas revelaram confusão conceitual (entre indisciplina e violência) e uma apreciação moralista do fenômeno, com atribuição das causas da indisciplina exclusivamente a ambientes extraescolares (o familiar, sobretudo). Esse discurso evidencia que as teorias explicativas da indisciplina, implícitas nas representações sociais das docentes sobre o fenômeno, têm caráter autoprotetor, visto que as docentes não se implicam, por essa forma de pensamento, nem como responsáveis pela produção, nem, tampouco, pela resolução pedagógica (não tradicional) da indisciplina infantil. Tais resultados também indicam que as representações sociais das docentes sobre a indisciplina de seu alunado marcam o seu posicionamento subjetivo diante da situação conflitante: ao se representarem distantes do que consideram um problema, maior é a dificuldade para assumirem a tarefa - verdadeiramente pedagógica e, portanto, inerente à docência - de ajudarem a desenvolver uma sociabilidade pacífica desde tenra idade.