Este artigo parte de práticas cotidianas para historicizar discursos que constroem estereótipos e preconceitos raciais, que se reproduzem socialmente, disfarçados de naturalidade. Busca cartografar discursos que legitimam o racismo, inclusive institucionalmente. É uma escrita na qual me posiciono para estranhar falas, gestos e performances, que envolvem negros e negras a se sentirem, ou serem narrados, sob identidades negativas. Para tanto, proponho três mo(vi)mentos que se intercruzam, a saber, 1- compartilho de conversas informais que tive com três mulheres negras, lançando questões quanto a forma com que se veem e se relacionam com os “outros”, o que tento traduzir enquanto outsider; 2- revisito algumas concepções racistas/higienistas, que vigoraram no Brasil da virada do século XIX ao XX, com amparo de instituições científicas, na tentativa de analisar as íntimas relações que se estabelecem entre a ciência, suas verdades, e os efeitos sociais detonados por meio de relações desiguais de poder; 3- busco colocar como a partir de práticas ordinárias podemos perceber resquícios dessas ciências preconceituosas, produzidas por homens inseridos no tempo e no espaço. Ao mesmo tempo, relaciono os contextos de produções desses discursos cientificistas e das demandas sociais que permitiram suas existências, para sugerir que não há nada mais antinatural que os constructos sociais que solidificam o racismo, por meio de ações reais e dolorosas.