O "Diário de Hospício" de Lima Barreto é um desdobramento de seu "Diário Íntimo". A partir das experiências dolorosas que vivenciou ao ser internado pela segunda vez no Hospital Nacional de Alienados, de 25 de dezembro de 1919 até 2 de fevereiro de 1920, o escritor trabalhou também no romance "O cemitério dos vivos", cujas memórias da estadia do autor nessa instituição psiquiátrica se entrelaçam com o enredo fictício sobre a vida de Vicente Mascarenhas. Essa última e inacabada trama barretiana também tem a temática da loucura como epicentro da narrativa. Afonso conseguiu esmerar ainda mais o gênero autobiográfico, no entanto faleceu antes de findar essa obra. Ao dar continuidade ao ofício de escritor, mesmo nas instalações do Hospital Nacional de Alienados, Afonso Henriques se colocou na condição de louco e transformou sua solidão intelectual em uma ferramenta de compreensão e comunhão com os delírios dos outros internos que o cercavam. De fato, Afonso Henriques pode ter sido um pouco de tudo, menos um indivíduo ensandecido. Após sofrer os graves delírios estimulados pelo uso intenso do álcool, o autor apresentava plena consciência da sua lastimável situação. Desse modo, a chamada literatura da urgência desse literato será usada aqui enquanto fonte na qual é possível também acompanhar o seu contínuo processo de maturação intelectual.