INTRODUÇÃO:O Centro de Atenção Psicossocial (CAPS) surgiu em 1987 como uma alternativa assistencial situada na transição do modelo hospitalocêntrico para o modelo preventivo-comunitário. No início dos anos 1990, o ministério da saúde adotou a portaria 189/91 que possibilitou o financiamento de novas estruturas assistenciais do tipo CAPS, além disso, usuários e familiares, através de encontros, fóruns e movimentos sociais foram atores que lutaram em prol de recursos assistenciais no lugar de manicômios. Portanto, o CAPS, que surgiu inicialmente como um instrumento provisório-permanente, graças à reforma psiquiátrica brasileira, consolidou-se como uma proposta substitutiva ao modelo psiquiátrico antes vigente. No entanto, trinta anos depois de sua criação ainda existe, dentro do serviço, condutas de “instituições totais”, modalidade de institucionalização onde se destacam a estigmatização, a carreira moral e a mortificação do eu. Essa realidade evidencia que a desinstitucionalização não é um método ou dogma, mas uma estratégia, um processo permanente no que diz respeito aos entendimentos culturais, sociais e técnicos no lidar com o sofrimento, com as situações de diferenças e diversidades. Dessa maneira, existe uma necessidade contínua de questionar, desconstruir e discutir sobre boas práticas no âmbito da saúde mental. METODOLOGIA:Trata-se de um relato de experiência baseado nas vivências de estudantes de medicina do quinto período da Universidade Federal de Pernambuco - Campus Agreste (UFPE/CAA) e de sua preceptora durante o estágio em um centro de atenção psicossocial da região.RESULTADOS E DISCUSSÃO:Os processos de mortificação do “eu” são definidos por Goffman como “os processos pelos quais o ‘eu’ da pessoa é mortificado e são relativamente padronizados nas instituições totais". Na vivência dos estudantes no CAPS, foi evidenciado por eles um dos processos os quais há a mortificação do eu, como um vestígio de condutas manicomiais, que se caracterizou em: o despojamento dos bens, emprego, carreira. Isso porque, segundo Goffman, Ingressar na instituição total não significa apenas uma brusca mudança de status social, mas também pode implicar na perda de propriedade, fator relevante, uma vez que as pessoas costumam ter as coisas como extensão de si mesmas. Na sociedade em que vivemos, os bens e objetos pessoais são parte do indivíduo. Despojado dos bens, o estabelecimento lhe providencia substituições padronizadas que são do estabelecimento e não da pessoa. Esses bens substitutos geralmente levam a marca do estabelecimento e podem ser recolhidos em intervalos regulares, quando são desinfetados de identificações. O internado pode ser obrigado a devolver objetos que ainda poderiam ser utilizados, antes de receber substituições. Pode haver também confiscos periódicos e buscas de propriedade acumulada, que reforçam a ausência de bens. CONCLUSÕES:este estudo reforça que a luta antimanicomial é um movimento dinâmico no qual a desconstrução e reflexão acerca conceitos e condutas manicomiais não deve ficar apenas presa a estudos passados, mas que nas práticas vivenciadas deve haver questionamentos sobre os componentes da reforma psiquiátrica e quais os caminhos escolhemos seguir cotidianamente nas práticas de saúde mental, evitando assim que se repitam erros, simplificação e banalização dos componentes que promovem a dignidade dos usuários da rede de atenção psicossocial.