O flúor é um elemento químico que em concentrações baixas, proporciona efeitos benéficos nos dentes, mas a exposição excessiva ao fluoreto através da ingestão de água a longo prazo, pode causar doenças sistêmicas como a fluorose óssea. O baixo número de casos confirmados de fluorose óssea refletem a deficiência de biomonitoramento e conhecimento do impacto da doença na saúde pública. Dessa forma, o campo da proteômica se apresenta como opção para estudo da expressão protéica, trazendo a expectativa de que exposições antes desconhecidas ou não esperadas, possam ser identificadas e as proteínas diferencialmente expressas possam dar as informações para elucidar o mecanismo da fluorose. Trata-se de um estudo epidemiológico, observacional, descritivo e transversal, baseado em dados quantitativos, com análise estatística e procedimento comparativo e descritivo. O estudo foi realizado na vila de Brejo das Freiras, no município de São João do Rio do Peixe (PB), local que apresenta elevada concentração de flúor em todos os poços naturais. A amostra foi constituída de 27 indivíduos com os casos mais graves identificados pelo perfil epidemiológico traçado, através de questionário semi-estruturado e pré-validado sobre sintomatologia de dores articulares. A coleta da saliva, foi obtida através da secreção da glândula parótida, ou das glândulas salivares menores, com estímulos mecânicos ou químicos, a depender se os pacientes tinham hipossalivação. As amostras foram sempre coletadas em um mesmo período do dia, das 10 às 14 horas, considerando o ciclo circadiano, e imediatamente centrifugadas na residência do voluntário, e armazenadas em nitrogênio líquido até sua análise no laboratório de bioquímica da USP, para preparação para espectrometria de massa. Foi realizada a dosagem das proteínas com o método Bradford modificado antes da espectrometria. Para obtenção dos espectros de massas, as amostras foram utilizadas no sistema nanoACQUITY UPLC (Waters, Milliford, USA) acoplado ao espectrômetro de massas Xevo Q-TOF G2 (Waters, Milliford, USA). Os dados obtidos foram buscados no banco de dados do UniProt (Universal Protein Resource). O presente estudo é provavelmente o primeiro a explorar in vivo análise proteômica para fluorose óssea no solo brasileiro, e ressalta-se que 15 indivíduos eram portadores de FO Dessa forma, obteve-se como resultado da análise proteômica na saliva a identificação de 109 proteínas e destas, 72 pertencem ao grupo G1(com fluorose óssea), 22 pertenciam ao G2 (sem fluorose óssea) e 15 eram comuns a ambos. Nenhuma das proteínas identificadas e comuns a G1_G2 tiveram expressão significativa, no entanto o G1 apresenta proteínas alteradas e subexpressas, quando relacionada ao G2. Há necessidade de investigação para averiguar se a subexpressão dessas proteínas resulta da interferência da alta concentração de F nestes indivíduos. Devido ao número baixo de amostras de saliva advindas da glândula parótida e, sobretudo, ao transporte do material biológico, a alteração destas pode ter ocorrido, considerando a sensibilidade da técnica de análise proteômica, justificando o baixo número de proteínas significativamente expressas ou subexpressas. Espera-se, que com a identificação dessas proteínas envolvidas nos processos metabólicos do flúor, possamos elucidar o metabolismo desse íon bem como identificar indivíduos mais vulneráveis à fluorose óssea.