LIMA, Valeska Nogueira De. . Anais IV SINALGE... Campina Grande: Realize Editora, 2017. Disponível em: <https://editorarealize.com.br/index.php/artigo/visualizar/27683>. Acesso em: 27/12/2024 01:50
A literatura infantil no Brasil tem sido marcada, desde os seus primórdios, por uma forte influência da cultura europeia, notadamente branca e legitimadora de relações sociais racistas. A figura do negro como personagem foi, por muito tempo, praticamente inexistente ou colocada em um lugar de marginal, refletindo e forjando a dinâmica da sociedade. A partir da década de 1980, a produção de livros que apresentavam os negros como personagens principais (SILVA; SILVA, 2011) começou a ganhar relevo, ainda que em uma proporção incipiente. A literatura afro-brasileira pode contribuir para uma construção positiva da identidade da criança negra, além de provocar na criança branca a valorização e a consciência em relação à diversidade (MARIOSA; REIS, 2011), sendo um instrumento fundamental de humanização (CANDIDO, 2011). Foi a partir da identificação de condutas racistas entre os alunos, em uma escola do campo do município de Fagundes – PB, que surgiu o interesse em problematizar a temática utilizando-se da literatura infantil sob a perspectiva do desenvolvimento de uma sequência didática com pressupostos teórico-metodológico pautados do letramento literário. Por se tratar de um conjunto de atividades organizadas sistematicamente a partir de determinados gêneros textuais orais ou escritos (ARAÚJO, 2013), a sequência didática foi organizada metodologicamente tomando por base as etapas da sequência expandida (COSSON, 2006). Para isso, foi escolhido o livro Amanhecer Esmeralda da autoria de Ferréz (2014) que tem como personagem principal uma menina negra. Buscou-se, através da mediação pedagógica e da sequencia didática, problematizar a questão do preconceito racial e suas relações com outras problemáticas sociais, em uma escola multisseriada, composta por alunos do 3º ao 5º Ano do Ensino Fundamental I. As etapas da sequenciação didática se iniciaram partindo da motivação para a leitura por meio da montagem de um quebra-cabeça com a imagem da capa do livro, posteriormente houve a apresentação e leitura do livro, permitindo pausas na leitura para o diálogo com outros textos [o poema De muito longe de Sérgio Caparelli, o livro O cabelo de Lelê da autoria de Valéria Belém e a obra Menina bonita do laço de fita de Ana Maria Machado], além de atividades de produção textual e de ilustrações, culminando com a preparação de um mural com informações sobre as obras trabalhadas e sobre a valorização da cultura afrodescendente. Como resultados, a atividade possibilitou uma leitura mais crítica das relações étnicos-raciais em suas relações com a exclusão social e a pobreza, o questionamento de algumas tensões ainda presentes na narrativa do livro quanto ao lugar destinado aos negros nas ações promovidas pelo branco. A atividade de mediação possibilitou uma leitura contra-hegemônica, que inclusive pode se naturalizar na própria obra literária (BOURDIEU, 1988).