Este trabalho apresenta os resultados de uma pesquisa realizada em uma escola de ensino fundamental, a qual teve como objetivo investigar o tratamento dado pelos professores à diversidade linguística na sala de aula. Dentre os objetivos específicos da nossa pesquisa, destacamos: (i) descrever as variedades linguísticas que os alunos utilizavam ao dialogarem com os colegas e o professor; (ii) interpretar os fatores sociais que influenciam na escolha das variedades empregadas na comunicação entre os falantes; e (iii) refletir sobre como o professor se coloca diante da influência da norma padrão/culta no contexto de sala de aula e como aborda outras regras variáveis desprestigiadas, especialmente de concordância nominal e verbal na língua portuguesa. Para realização da pesquisa, tivemos como apoio teórico os conceitos e postulados da Sociolinguística, seguindo os trabalhos de Alkmim (2001) e Bagno (2007), entre outros autores que estudam e discutem sobre o fenômeno da variação e da mudança linguística. A pesquisa foi realizada em uma escola pública do ensino fundamental, localizada na cidade de Alexandria/RN. Observamos 20h/a de Língua Portuguesa nas turmas de 6° e 9° ano, e, utilizando de instrumentais da pesquisa de campo, fizemos anotações no decorrer das aulas, registrando os procedimentos metodológicos do professor ao abordar conteúdos relacionados à variação linguística. As notas de campo tiveram como base um roteiro com questionamentos referentes a esse fenômeno, e se constituíram como corpus de análise para o trabalho. Diante da análise dos dados, percebemos que há ainda problema de formação teórica a respeito desse assunto, evidenciando a necessidade do professor aprofundar-se mais nas questões relativas às variedades linguísticas, sobretudo dominar a terminologia para se referir com clareza a conceitos como língua, variação, variedades, variantes, norma padrão/norma culta. Além disso, levando em conta a heterogeneidade constitutiva à língua, observamos uma dificuldade do professor de saber lidar com eventuais usos diferentes que o aluno faz da língua portuguesa, principalmente aqueles que mais se distanciam da variedade prestigiada socialmente. Tal dificuldade acabava tornando inevitável a reprodução do preconceito linguístico em sala de aula. Em determinadas situações, por exemplo, o professor utilizou termos como “matou o português”, reprimindo um aluno por ter falado o termo “mar milhor”, fato que gerou uma série de piadas e risadas, demarcando, assim, o preconceito linguístico tanto por parte do professor como também dos outros alunos. Desse modo, concluímos que a Sociolinguística no âmbito escolar tem um papel fundamental, sobretudo pelo fato de tratar das diversidades linguísticas, levando em conta que a língua, nessa concepção, é heterogênea, variável e multifacetada. A partir da realidade vivenciada e dos resultados alcançados, destacamos a necessidade do professor ser conhecedor dos estudos sociolinguísticos para saber lidar com essas diversidades, saber fazer com que o aluno reflita sobre sua língua materna e não reprimi-lo por uma forma linguística que falou ou escreveu de forma “errada”, pois, na concepção sociolinguística, não existe uma língua “certa” ou “errada”, nem mais “bonita” ou “feia”, o que existem são variedades diferentes na língua para que o falante possa se adequar aos diferentes contextos de uso.