Artigo Anais IV SINALGE

ANAIS de Evento

ISSN: 2527-0028

CUMPADE FULANO ... CUMPADE SICRANO: UMA ESTUDO DAS FORMAS DE TRATAMENTO NA FALA DE REMANESCENTES DE QUILOMBOLAS DO MUNICÍPIO DE PORTALEGRE – RN

Palavra-chaves: SOCIOLINGUÍSTICA, , VARIAÇÃO LINGUÍSTICA, , FAIXA ETÁRIA, , FORMAS DE TRATAMENTO. Comunicação Oral (CO) GT05-ESTUDOS DESCRITIVOS DA GRAMÁTICA DO PORTUGUÊS SOB UMA PERSPECTIVA FUNCIONALISTA
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Publicado em 27 de abril de 2017

Resumo

Este trabalho analisa as formas de tratamento utilizadas por falantes das comunidades Arrojado, Pêga e Engenho Novo, que são remanescentes de quilombolas da cidade de Portalegre/RN. Especificamente, propõe-se a: (i) identificar e descrever as formas de tratamento usadas por falantes do sexo feminino, considerando as variáveis de faixa etária e o grau de familiaridade dos interlocutores e de monitoramento estilístico nas conversações; e (ii) discutir sobre as relações de proximidade ou distanciamento das formas de tratamento em relação à norma-culta prestigiada socialmente. Como procedimento metodológico, a faixa etária das informantes foi distribuída em dois blocos: mulheres entre 50 e 59 anos e entre 63 e 81 anos. Nossa análise utiliza como corpus parte do banco de dados organizado por Souza, Mendes & Fonseca (2011), pesquisadores que registram o discurso oral das três referidas comunidades. Com base teórica, seguimos os estudos de Labov (2008), Camacho (2001), Bagno (2007), Cezário & Votre (2008), Carvalho (2016), entre outros. A análise feita evidenciou que o grau de intimidade entre os interlocutores determinam a escolha da forma de tratamento, o que sugere também menos pressão quanto à atividade linguística. Ao relacionar esse fator com a faixa etária, organizamos os resultados da seguinte forma: em uma conversa com pessoas com quem se tem maior grau de familiaridade ou intimidade, as falantes entre 50 e 59 anos utilizam formas de tratamento como: “cê”, “você”, “home”, “caba” “véi e “veia”; enquanto que com pessoas com as quais estabelecem menor intimidade, usam formas como "rapaz", “rapais”, “seu”, “sĩô”. Além disso, quando o interlocutor do diálogo é homem, as informantes tendem a monitorar mais a forma de tratamento, ficando mais próxima do polo da formalidade. Já as informantes com idade entre 63 e 81 anos, mesmo nas situações de maior intimidade com o outro, utilizam formas de tratamento que revelam não só a proximidade do polo da formalidade, mas também a demonstração de respeito e afeição, tais como: “minina”, “meu fi”, “mĩa fia”, “cumpade”, “mulé”, “mulhé”, “cês” e “cê”. Já para se referir a pessoas do sexo oposto ou que também sejam idosas, elas mantêm menor grau de intimidade na conversação, usando formas como: “sĩô”, “home”, “camarada” e “compãiêro”. Constatamos que as falantes entre 63 e 81 anos apresentam maior variabilidade no uso de formas de tratamento em relação às informantes entre 51 e 59 anos, o que pode estar associado às suas maiores experiências de vida. Percebemos que as formas de tratamento utilizadas por todas as informantes se distanciam bastante da norma culta, sendo que isso está ligado ao fato de tais falantes sempre terem morado na zona rural e porque tiveram pouco ou nenhum contanto com a escola. É importante destacar que, mesmo assim, elas formalizam o seu discurso e impõem distanciamento e respeito nas interações comunicativas. Esses resultados podem servir de base para promover discussões sobre o preconceito linguístico no ensino de língua portuguesa, desmistificando a ideia de que existem variedades linguísticas certas ou erradas, mas sim as formas que melhor se adequam às necessidades comunicativas.

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