Este trabalho tem por objetivo central expor acerca do andamento do projeto de pesquisa em curso sobre meritocracia versus a transmissão/reprodução da herança cultural no universo escolar. O referencial teórico utilizado na pesquisa foca no conceito de capital cultural, que constitui o elemento da bagagem familiar que teria o maior impacto na definição do destino escolar. As análises das obras de Bourdieu, realizadas até o momento, orientam para a ideia de que a posse de capital cultural favorece o desempenho escolar na medida em que facilita a aprendizagem dos conteúdos e códigos escolares. A educação escolar, no caso das crianças oriundas de meios culturalmente favorecidos, seria uma espécie de continuação da educação familiar, enquanto para as outras crianças significaria algo estranho, distante, ou mesmo ameaçador. A partir destes estudos e de uma metodologia qualitativa, o projeto busca retomar reflexões, ainda não superadas, acerca das competências intrínsecas certificadas e legitimadas pela escola. Ao ignorar que as aptidões dos alunos não se devem somente aos “dons naturais” e méritos pessoais a escola transmite, por meio dos dispositivos de julgamento que emprega, a cultura da elite reafirmando seus privilégios sociais. Assim, longe de ser uma mera disfunção organizacional ou pedagógica, o fracasso escolar aparece como socialmente necessário num sistema encerrado em relações de dominação. A cultura transmitida pela escola se apresenta como legítima, objetiva e indiscutível, como “neutra”, portanto, dissimulando seu caráter arbitrário e sua natureza social.