RESUMO: O presente artigo direciona um olhar para o romance Neighbours (1995) da escritora moçambicana Lília Momplé, a partir de discussões que a própria narrativa suscita como as marcas do realismo na escrita contemporânea, a mulher e a violência que a cerca. Inegavelmente, o realismo e a violência ocupam um lugar de destaque na narrativa em questão, assim como em uma importante parte da literatura contemporânea das sociedades que viveram sob o jugo do colonialismo. Uma explicação para essa constatação é, sem dúvidas, a constante presença da violência na cultura desses países, fato que influencia na organização da própria ordem social e, consequentemente, na experiência criativa e simbólica desses locais. Depreende-se, dessa maneira, que Lília Momplé apega-se ao real e – por meio do realismo estético – produz retratos de seu país como ele é, escolhendo como pano de fundo a violência, com o intuito de denunciar as atrocidades cometidas pelos sistemas colonial e pós-colonial contra o povo moçambicano. Acrescente-se que além do registro da violência externa, a autora põe em destaque, intencionalmente, as diferentes formas de violência enfrentadas pela mulher também em ambiente privado naquele contexto. Acredita-se que se utilizando disso, a arte de Momplé recusa a intenção de domesticação do olhar do leitor e, ao mesmo tempo, provoca um efeito de despertamento e emancipação, de modo que o mesmo se reconheça capaz de atuar de forma crítica e consciente a partir da leitura da obra, não se limitando apenas ao consumo e ao aplauso do objeto artístico.