O presente artigo sistematiza uma proposta de estudo que tem como principal objetivo analisar as subjetividades atribuídas à instituição familiar e neste sentido pensar como os discursos viabilizados em manuais de condutas das décadas de 1950 e 1960 formavam os perfis familiares baseados em suas normas e conselhos. Nesta perspectiva, utilizar-se-á nesta pesquisa três manuais, são eles: “Aprenda as Boas Maneiras” de Dora Maria (1961), “O Que Toda a Dona de Casa Deve Saber” de Vera Sterblitch (1958) e “Nós e Nossos Filhos” de Raimundo Beach (1969). Em termos teórico-metodológicos, as fontes serão operacionalizadas a partir da análise da produção de discursos de boas maneiras sobre a família no momento de emergência das políticas públicas do Estado Novo no Brasil, a qual os manuais emergiram como estratégias de produção de subjetividades, corpos e modelos de convivência, para instituir práticas e fazer circular saberes que visaram instituir uma “verdade” sobre o corpo e os modos através dos quais deveriam se constituir como tais. Os principais fios condutores desta pesquisa são os conceitos veiculados por Roger Chartier pertinentes à leitura e representação das fontes, pois na tessitura da história tais conceitos podem ser compreendidos como uma sequência em que o indivíduo leitor tem seu contato com a informação e dela faz ou não uso. Neste sentido, as normas e a educação dos gestos interiorizados ao longo do percurso de uma vida também podem ser apreendidos por meio de documentos e monumentos veiculadores de conhecimento, como, neste caso, os manuais de conduta.