Para Lima Barreto, o ato de escrever nunca seria apenas um exercício lúdico ou mero ato diletante, o trabalho com a palavra pressupunha o empenho do escritor no processo de formação do sujeito, de modo que a realização da obra seria resultado de uma atitude em que se articulam sensibilidade artística e compromisso ético do autor com os valores de seu tempo. Sua literatura nasce das contingências do cotidiano, que fornecem o material para a elaboração do texto e ao mesmo tempo “exigem” do autor uma posição em face da realidade que o envolve, de forma que a leitura dos seus livros, mais do que um momento de fruição estética, constitui um exercício de consciência histórica e cidadania. Sua concepção de literatura orienta o conjunto da obra, seja na configuração formal dos textos, seja no plano dos temas e dos motivos, e encontra-se formulada no ensaio “O destino da literatura”, escrito para uma conferência que o autor chegou a pronunciar. Já o crítico Antônio Candido, autor de uma vasta obra, intelectualmente refinada e não menos militante, considera que a literatura, sem prejuízo de sua função estética, tem uma função “humanizadora”, haja vista que participa da formação do homem num sentido amplo e profundo, pois “desenvolve em nós a quota de humanidade na medida em que nos torna mais compreensivos e abertos para a natureza, a sociedade, o semelhante”. Esta comunicação tem como objetivo apresentar uma discussão acerca da concepção de Lima Barreto sobre a literatura e sua “missão” no processo de civilizador, bem como discutir a visão do crítico Antonio Candido sobre a literatura e seu papel no processo de formação do homem, para, a partir aí, refletir sobre a importância e/ou a pertinência de estudar e ensinar literatura nos dias de hoje.