A maternidade atípica constitui-se uma experiência única e específica para as mulheres que a vivem em condições atípicas, vinculadas ao nascimento de crianças com doenças raras, deficiências e/ou transtornos. Nesta pesquisa, analisamos o autorrelato de Lia, mãe de uma criança com Transtorno do Espectro Autista, com vistas a compreender o processo de constituir-se mãe de uma criança autista, uma vez que a maternidade é um processo de aprendizagem, desenvolvido nos contextos sociais nos quais a mãe se situa e interage. O autorrelato é um tipo de delineamento da pesquisa narrativa, que tem sido utilizado para investigar fenômenos de constituição identitária por seu caráter formativo e respeitoso, ao dar voz e vez à pessoa que vive o fenômeno de interesse das pesquisadoras e pesquisadores. Por isso, a construção das informações foi feita por meio de um autorrelato. Lia foi convidada e dispôs-se a escrever um autorrelato sobre a experiência da maternidade atípica. Para isso, ela foi informada de que poderia escrever o texto da forma que desejasse, levando o tempo que desejasse e sem restrições quanto ao número de linhas e/ou palavras. De posse do autorrelato, desenvolvemos uma Análise Textual Discursiva, que possibilita a geração de um metatexto, que é um texto autoral, no qual as pesquisadoras puderam tecer a interpretação da interpretação dos significados da maternidade atípica. Os resultados evidenciaram que, no autorrelato, Lia tece sentidos sobre o seu processo de tornar-se mãe atípica, desde o luto até a luta e destaca que a vivência da maternagem foi essencial para a constituição de si como mãe. A maternagem foi compreendida como uma conexão emocional profunda, significativa e comprometida com o desenvolvimento do filho e de si mesma. Reconhece a rede familiar e de profissionais especialistas como um diferencial no seu processo de aprendizagem sobre o TEA.