Nas obras de filosofia da ciência e nos livros didáticos de filosofia, essas duas áreas de conhecimento (filosofia e ciência) costumam ser apresentadas a partir das semelhanças e contrastes que possuem entre si e na relação com saberes do senso comum, da religião e das artes. De outro modo, em obras que discorrem sobre a história da ciência, são raras as análises que procuram cotejar o percurso das ciências naturais e das ciências humanas, sendo mais recorrente as narrativas que privilegiam a genealogia e o paradigma das primeiras em detrimento das segundas, rara ou precariamente mencionadas. Nesse texto, apresentamos e discutimos as narrativas históricas presentes em algumas obras de história da ciência, realçando as diferentes localizações da gênese das ciências naturais destacadas pelos autores, o que para além de meras discordâncias historiográficas, revelam subjacentes concepções de ciência e de suas relações com outras formas de saber, como a filosofia, a técnica e a as ciências humanas. Problematizamos o quanto esse modo de apresentar a história das ciências, que privilegia a história das ciências naturais em detrimento das ciências humanas e/ou sociais, concorre ou não para consolidação de visões estreitas e estereotipadas sobre o conhecimento científico, o que tem impacto no ensino e na formação de estudantes e pesquisadores.