À luta pela superação do racismo na sociedade brasileira, de modo geral, e na educação escolar, em específico, exige de nós, professores(as) da educação básica e pesquisadores no campo das políticas educacionais, repensarmos a nossa prática pedagógica, bem como as bases teóricas e os documentos oficiais que orientam a formação-atuação docente na contemporaneidade. Assim, em consonância com a complexidade que envolve a formação docente e, articulado a concepção de que é papel da escola, sobretudo a pública, construir uma educação pautada na diversidade, o presente ensaio tem como objetivo realizar uma análise acerca da Base Nacional Comum para a Formação Inicial de Professores da Educação Básica (BNC-Formação), problematizando o modo pela qual a nova política educacional encaminha a formação de professores(as) na perspectiva da educação antirracista. Orientados pelo texto da Lei 10.639/03 que torna obrigatória a inclusão do ensino de História da África e da Cultura Afro-Brasileira nos currículos dos estabelecimentos de ensino públicos e particulares da educação básica, buscaremos analisar, em um primeiro momento, como a BNC – Formação se insere no debate das relações étnico-raciais. Em diálogo com as reinvindicações propostas pelos pensadores da chamada Geografia Negra e diante da centralidade da categoria raça enquanto princípio inerente da produção social do espaço, analisaremos, em um segundo momento, os limites da BNC-Formação para a promoção de saberes docentes que orientam os futuros professores a desenvolverem na educação básica um conhecimento geográfico poderoso. Cabe destacar que o projeto político-ideológico para o magistério na contemporaneidade, assim como parte do atual conteúdo prescrito na BNC-Formação, está em consonância com os preceitos da agenda neoliberal, que combinam, dentre outros aspectos, a eficiência docente por meio de metas preestabelecidas, a responsabilização por resultados, e a desumanização dos imperativos da relação ensino-aprendizagem, reduzindo, assim, as possibilidades de uma prática pedagógica crítica e em consonância com questões que envolvem o cotidiano escolar. Consideramos que o documento oficial que orienta a formação-atuação docente é um retrocesso no que diz respeito as possibilidades apresentadas pela Lei 10.639/03, que em 2023 completou 20 anos, bem como as iniciativas de formação de professores(as) voltadas para a diversidade étnico-racial. Diante deste cenário, e como já preconizado por beel hooks, cabe a nós, professores(as), transgredir as fronteiras dos documentos oficiais que orientam a “formatação” docente, para que a nossa prática pedagógica possibilite ao estudante da educação básica se apropriar do conhecimento poderoso, despertando, assim, a consciência de sua existência e se perceber enquanto sujeitos capazes de romper com o racismo estrutural presente na sociedade brasileira.