INTRODUÇÃO Este trabalho tem como objetivo identificar a importância da inferência no processo da compreensão leitora. Consideramos nesse estudo que para compreender o texto o leitor mobiliza seus conhecimentos prévios sobre o conteúdo, juntamente com as informações explícitas e, a partir de tais informações, é que se tem uma conclusão das ideias que estão implícitas dentro do texto. Por este motivo, é que a inferência se torna necessária, pois, é por meio dela que o leitor constrói a sua compreensão no ato da leitura. Ao identificar sua importância no processo de compreender, a inferência, “é um processo cognitivo que gera uma informação semântica nova a partir de uma informação semântica anterior, em um determinado contexto. Ao utilizá-la o leitor constrói novas proposições a partir de outras informações já dadas” (DELL'ISOLA 2001 apud SANTOS 2008, p.64). No decorrer do trabalho pretendemos demonstrar as contribuições da inferência para o processo de compreensão leitora, através da pesquisa qualitativa utilizando os aspectos da bibliografia. Esta estratégia vem ganhando visibilidade após o resultado do Piso Internacional de leitura que identificou a falta de compreensão leitora dos alunos, demonstrando o seguinte resultado: cerca de 50% dos estudantes brasileiros não atingiram o mínimo de proficiência que todos os jovens devem adquirir até o final do Ensino Médio (PISA 2015). A partir desse resultado não satisfatório as ações em relação à leitura e escrita deveriam intensificar nas aulas de língua portuguesa, por este motivo surgiu um interesse em identificar como a estratégia inferência possibilita ao aluno compreender o não dito no texto. METODOLOGIA (OU MATERIAIS E MÉTODOS) Para seu desenvolvimento foi utilizada a metodologia qualitativa através da abordagem bibliográfica. Metodologia esta que envolve a obtenção de dados descritivos, onde o pesquisador é tanto o sujeito quanto o objeto de pesquisa e esta pesquisa baseia-se em descrever, compreender e explicar as ações e os fatos. Nessa pesquisa, o cientista é ao mesmo tempo o sujeito e o objeto de suas pesquisas. O conhecimento do pesquisador é parcial e limitado. O objetivo da amostra é de produzir informações aprofundadas e ilustrativas: seja ela pequena ou grande, o que importa é que ela seja capaz de produzir novas informações (DESLAURIERS, 1991, p. 58 apud GERHARDT; SILVEIRA, 2009, p. 32). A pesquisa bibliográfica por sua vez, permite investigar através de material teórico que já foi publicado, sendo eles (artigos científicos, teses, documentos oficiais e livros) sobre o assunto de interesse e assim fazer um levantamento teórico. Conforme esclarece Fonseca (2002, p. 32). Esse tipo de pesquisa é feita a partir do levantamento de referências teóricas já analisadas, e publicadas por meios escritos e eletrônicos, como livros, artigos científicos, páginas de web sites. Como aporte teórico o trabalho se fundamentou nos estudos e se apoiou em estudiosos desse campo que vem para acrescentar informações e conhecimento para levarmos na nossa jornada de leitores, como Freire (1982), Leffa (1996), Koch e Elias (2010), Kleiman (2011), Solé (2012), assim como os documentos oficiais como Base Nacional Comum Curricular (BNCC; 1997) Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN; 2017) e, entre outros. REFERENCIAL TEÓRICO A leitura traz consigo suas contribuições, como a decifração de códigos, o aumento do seu repertorio pessoal, além disso, a capacidade de raciocinar, podendo compreender as informações contidas no texto, pois sua visão de mundo torna-se mais profunda e completa. De acordo com Freire (1989, p.5), “a leitura do mundo precede sempre a leitura da palavra e a leitura desta implica a continuidade da leitura daquele. Portanto, mesmo que a criança aprenda primeiro a “ler o mundo”, é que posteriormente aprenderá a “ler a palavra”, bem como, aumentará socialmente falando a possibilidade de conseguir um lugar de destaque na interação com o texto. Todavia, entende-se que a leitura é associada à forma de ver o mundo, sendo assim, possível dizer que a leitura é um meio de conhecer”. Portanto, a leitura, não está apenas no âmbito escolar ela se apresenta no cotidiano de uma sociedade com constantes avanços científicos, tecnológicos e culturais, onde possibilita ao leitor refletir, questionar e comparar fatos do passado com o presente, construindo uma visão de mundo. No entanto, cria-se a necessidade de compreender o que se lê, pois, grande parte dos conhecimentos adquiridos dentro ou fora da escola é apresentada por meio do texto escrito e oral materializado pelo gênero textual. Deste modo, se a leitura está a partir do documento orientador na concepção interacional que permite o aluno/leitor interagir com o texto dando-lhe significado, por este motivo a educação básica deveria não adotar um modelo limitado à decifração da leitura. No entanto atualmente, através de estudos e pesquisas a prática de leitura não se configura como uma simples decodificação de símbolos, mas sim, de fato, entender o que se lê “por meio da interação autor/texto/leitor” (KOCH e ELIAS 2010). Segundo Kleiman (2010), a leitura precisa permitir que o leitor apreendesse o sentido do texto, não podendo transformar-se em mera decifração de signos linguísticos sem a compreensão semântica deles. Portanto, um indivíduo pode ser visto como um leitor quando passa a compreender o que lê. Ler é antes de tudo compreender, por isso não basta interpretar sinais e signos, é importante modificar e ser modificado. Durante a leitura, atribuímos significado ao texto dando-lhe sentido e assim comparando com informações já obtidas em leituras feitas outrora, e em outras ocasiões aprendemos com o texto que se lê, e assim, adquirimos conhecimentos que nos motivará ao hábito de ler, seja por prazer, para estudar ou para se informar, essa prática aperfeiçoa o vocabulário e estimula o raciocínio e a interpretação. De acordo com Solé (2012; p.22) “que a leitura é um processo de interação entre leitor e o texto; neste processo tenta – se satisfazer [obter uma informação pertinente para] os objetivos que guiam sua leitura”. Conforme Koch e Elias, “São, pois, os objetivos do leitor que nortearão o modo de leitura, em mais tempos ou em menos tempo; com mais atenção ou menos atenção; com maior interação ou com menor interação, enfim.” (Koch e Elias; 2010; p.19). Portanto, a partir disso, entendemos que o leitor decide a forma que irá ler o texto, qual o intuito que o leva a fazer tal leitura, sendo para a utilização de um remédio ou mesmo uma leitura de um poema, pois o tempo e o modo é ele quem estabelece. RESULTADOS E DISCUSSÃO A leitura é uma atividade cognitiva amplamente sofisticada da qual não podemos prescindir na maioria das nossas relações e práticas de interação (SILVEIRA 2015, p.75). Compreender um texto escrito é o mesmo que interagir com as ideias do autor contidas na superfície textual e assim também resgatar e produzir informações novas a partir do conhecimento prévio do leitor e assim destacando o papel ativo do leitor na compreensão do texto. Para que essa interação aconteça de maneira sofisticada, o leitor mobiliza o seu conhecimento prévio e assim gera inferências que lhe possibilite interagir com o autor via texto. Dessa forma, ler um exto escrito significa compreender o que se lê, e essa compreensão acontece por meio do processamento inferencial da leitura. A produção de sentido de um texto está ligada a interação entre o autor eleitor via texto e para que se estabeleça essa relação entra em ação uma importante estratégia de leitura – a inferência. As inferências possuem um papel essencial na compreensão de textos, uma vez que consistem em “[...] processos cognitivos nos quais os falantes ou ouvintes, partindo da informação textual e considerando o respectivo contexto, constroem uma nova representação semântica”. (MARCUSCHI, 2008, p.249 apud SILVEIRA, 2015, p.77) Para Cascarelli (2003), “a noção de inferência é imprescindível para quem quer entender melhor o fenômeno da compreensão de maneira geral”. [...] “para compreender um texto, o leitor tem de fazer inferências porque o texto não tem e nem poderia ter todas as informações necessárias à sua compreensão”.(COSCARELLI, 2003, p.1 e 26 apud SILVEIRA, 2015, p. 77). A estratégia inferência além de ser imprescindível para a compreensão da leitura possibilitando a construção de novos conhecimentos, ela permite que o leitor deduza as informações que estão encoberta no texto por meio da interação autor/texto/leitor. A concepção de inferência é um processo cognitivo (DELL’ISOLA, 2001, p.44 apud SILVEIRA, 2015, p. 78-79), afirma que “inferência é um processo cognitivo que gera uma informação nova a partir de uma informação semântica, em um determinado contexto. Inferência é, pois, uma operação cognitiva em que o leitor constrói novas proposições a partir de outras já dadas”. Nesta perspectiva, a leitura passa a ser vista como “uma busca pelo significado e depende da capacidade do leitor em fazer inferências, preencher lacunas e elaborar hipóteses, que serão confirmadas ou refutadas, à medida que o texto avança”. (BOEFF, 2011, p. 33 apud SILVEIRA, 2015, p.79). Dessa forma, para compreender um texto por mais simples que seja, conforme nos afirma Leffa (1996), faz-se necessário a realização de inúmeras inferências ao longo da leitura. Com o intuito de compreender o texto, o leitor deduz durante o processo de leitura e assim, avançar no texto desenvolvendo, preenchendo e elaborando hipóteses que deem significado ao texto. Segundo Kleiman (2011) o processo inferencial além de dá significado ao texto permite criar uma teia de significados que o leitor é capaz de estabelecer dentro do horizontal de possibilidades que é o texto. As relações não são aleatórias, mas estabelece um encontro de confrontos com duas ideias o do autor e o do leitor. Como Silveira (2015, p. 79) vem afirmando em todo o capítulo que o “conhecimento prévio é um elemento fundamental para o processo inferencial”, ou seja, no decorrer da leitura o aluno mobiliza o conhecimento adquirido de suas vivencias e podendo também se apropriar de outras estratégias de compreensão de leitura, para assim fazer uma ligação com o que o texto trata dando-lhe espaço para realizar o processo inferencial. Dessa forma, os tipos de inferências que um leitor pode fazer ao realizar uma atividade leitora, Cascarelli (2003) propõe uma análise a partir de um conjunto de traços, classificados por ela como relevantes e informativos, a partir dos quais as inferências podem ser reunidas em três grupos: (1) conectivas e elaborativas, (2) locais e globais e (3) intratextuais e extratextuais. CONSIDERAÇÕES FINAIS O estudo sobre a inferência no processo de compreensão leitora é possível quando o professor compreende em que nível de leitura o aluno/leitor se encontra, porém, a inferência levará o leitor a interagir com o texto. Assim, entender as intenções do autor e podendo até dar um retorno à leitura. No entanto, inferência faz uma ligação entre o conhecimento prévio e as informações contidas no texto, para que haja compreensão textual, pois quando se apropria dessa estratégia ela abre um leque de informações para que o aluno entenda o texto. Para compreender um texto, o leitor tem que fazer inferências porque no texto não apresenta todas as informações necessárias para a compreensão. A estratégia inferencial além de ser imprescindível para a compreensão da leitura possibilitando a construção de novos conhecimentos. Através do estudo realizado, consideramos que o processo inferencial é de suma importância para a compreensão da leitura, porque é por meio dele que o leitor adiciona informações ao texto a partir de informações que ele encontrou na leitura, para assim, chegar à compreensão leitora, pois durante o processo ele mobiliza os conhecimentos prévios, para que através dele ative assim, a interação autor/texto/leitor. Palavras-chave: Leitura; Compreensão leitora; Estratégias de leitura; Ensino. REFERÊNCIAS BOCCATO, V. R. C. Metodologia da pesquisa bibliográfica na área odontológica e o artigo científico como forma de comunicação. Rev. Odontol. Univ. Cidade São Paulo, São Paulo, v. 18, n. 3, p. 265-274, 2006. BRASIL, BRASIL. Ministério da Educação. Base Nacional Comum Curricular (BNCC). Brasília, 2017. Brasil no PISA 2015: análises e reflexões sobre o desempenho dos estudantes brasileiros / OCDE-Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico. — São Paulo: Fundação Santillana, 2016. FONSECA, J. J. S. Metodologia da pesquisa científica. Fortaleza: UEC, 2002. Apostila. FREIRE, Paulo. A Importância do Ato de Ler: em três artigos que se completam. 21 ed. São Paulo: Cortez, 1982 – Coleção Polemicas Do Nosso Tempo. GERHARDT, Tatiana. E.; SILVEIRA, Denise, T. Métodos de Pesquisa, Porto Alegre: Editora da UFRGS, 2009. http://www.ufrgs.br/cursopgdr/downloadsSerie/derad005.pdf KLEIMAN, Ângela. Texto e o leitor: Aspectos Cognitivos da Leitura. 14 ed. Campinas, SP: Pontes, 2011. KOCH, Ingedora.V.; ELIAS, Vanda. M. Ler e Compreender: Os sentidos do texto. São Paulo: Contexto, 2010. LAJOLO, Marisa. Do mundo da leitura para a leitura do mundo. São Paulo: Ática, 2008. Ludke Menga, André, Marli, Pesquisa em educação: abordagens qualitativas, São Paulo, EPU. 2013. SANTOS, Márcia Regina. M. O Estudo das Inferências na Compreensão do Texto Escrito, Lisboa 2008, Mestrado em Linguística Área de Especialização: Linguística Educacional. Disponível em; https://core.ac.uk/download/pdf/12420749.pdf. SILVEIRA, Maria Inez. M. Leitura: abordagem cognitiva/ Maria Inez Silveira Matoso, Francisco Jailson Dantas de Oliveira – Maceió: EDUFAL, 2015. 92. p.:il. ISBN: 9788571779945. SOLÉ, Isabel. Estratégias de leitura. 6 ed. Reimpressão, 2012, Porto Alegre: Penso, 1998.