O escritor africano, originário de Moçambique, José Craveirinha, publicou, a sua segunda obra, intitulada Karingana ua Karingana em 1974, porém, ela foi concebida em 1963. Trata-se de um livro em que o autor traduz poeticamente o cotidiano moçambicano, expressando-o em sua completude: as práticas e os espíritos. O título foi inspirado nas Rongas, uma das línguas naturais de Maputo, mesma cidade em que se passa o conto de Mia Couto, em que a oralidade dá o tom para narrar a história de um moçambicano comum, que, indiferente aos direitos de sua mulher, agrediu-a, fazendo com que ela fugisse e ele, a partir de então, vivesse uma vida de aparências, simulatória. O conto foi publicado no livro Vozes Anoitecidas no ano de 1987. O presente artigo analisa trechos das obras, apontando características semânticas e composicionais que definem a originalidade do fazer estético dos autores, levando em consideração questões sociais e identitárias. A representatividade do povo africano e sua cultura milenar, seus direitos (ou a falta deles), a questão da interculturalidade, compreendendo o termo como a convivência igualitária entre as culturas africanas e a europeia, já demonstrada na estrutura linguística que mescla a Língua Portuguesa com as Rongas. Observamos tanto a beleza da poesia e do conto como obras de arte literária, quanto sua importância na expressão popular e construção de uma identidade própria e intercultural, revelando quão valiosa é a cultura regional, rompendo a ideia supremacista europeia ao repensar dinâmicas sociais do cotidiano de Maputo, e o sofrimento daqueles seres humanos, imersos em uma realidade pouco afeita aos seus direitos e bem-estar. Empregamos os postulados de Bakhtin, Bosi, Pacheco e Bourdieu para embasar academicamente o nosso trabalho, ao utilizarmos a Literatura como ferramenta de aprendizado de uma cultura pouco estudada no Brasil, revelando sua face por meio do texto, que traz verdades históricas em sua camada mais profunda.