A presente pesquisa tem por objetivo analisar, a partir de narrativas orais construídas através de entrevistas, o conflito entre vazanteiros e camponeses hoje assentados, durante o processo de construção do assentamento Rosa Luxemburgo, em Jaguaruana-CE. O conflito, ocorrido nos meados da primeira década dos anos 2000, representou um ponto de cisão entre dois agrupamentos de camponeses que compunham o território. De um lado, os que faziam parte da ocupação coordenada pelo MST – Movimento Sem-Terra, do outro, vazanteiros que produziam às margens do açude dentro do território ocupado, sob a tutela do ex-proprietário. Desse modo, o trabalho se estrutura a partir das seguintes questões: como os camponeses à época membros da ocupação Rosa Luxemburgo lembram o conflito? De igual modo, como o fazem também os vazanteiros? E por fim, como tais sujeitos se percebem dentro desse acontecimento? Percorrendo as diferentes histórias narradas sobre esse conflito, somos conduzidos à uma complexa teia de significados, que juntas constroem uma trama singular e, longe de nos apresentar uma resolução “pacífica”, nos aponta uma questão: tal conflito, permanece no campo da memória? A saber, a disputa pelo significado e “razão” do acontecimento. Nesses termos, este trabalho persegue a compreensão acerca das motivações e das percepções dos sujeitos nessa disputa não apenas material, mas simbólica. Cabe, à guisa de conclusão, o esforço de tensionar a relação entre as subjetividades dos sujeitos políticos, observando toda uma amálgama de sentimentos, alcançando não tão somente o acontecimento através da oralidade, mas o significado que o ato de narrar imprime sobre os sujeitos.