Este trabalho foi desenvolvido no interior da Neurolinguística Discursiva (ND) e objetiva analisar propostas de intervenção na escrita de crianças com dificuldades escolares sugeridas em protocolos de intervenção destinados a professores e a profissionais da área clínica. O critério para a seleção dos manuais é sua presença em listas de livros mais vendidos sites da internet. Partindo desta análise, problematizamos autoridade conferida às publicações que relacionam as neurociências à educação, especialmente aquelas que assumem um caráter de inovação e vanguarda, que alegam que podem contribuir para a educação - e até promover uma revolução de práticas educativas – uma vez presentes na formação de professores, seja inicial, seja continuada. A análise dos exercícios dos manuais mostra que as atividades são muito semelhantes ou iguais às tarefas contidas nas cartilhas de alfabetização publicadas no Brasil nas décadas de 50 e 60 e que evolvem, sobretudo, a cópia de palavras descontextualizadas, o exercício mecânico de treino de traçado das letras, completar palavras com sílabas e letras faltantes, contar sílabas, letras e sons, identificar figuras cuja palavra que a representa tem certa sílaba inicial, ligar palavras à figuras, dentre tantas outras tarefas já conhecidas dos professores há mais de cinco décadas. Partilhando dos pressupostos teóricos da psicóloga histórico-cultural, entendemos a alfabetização como uma atividade social e cultural complexa, que deve ser atravessada pelo sentido, pela subjetividade e pelas funções sociais da escrita e da leitura. Assim, rejeitamos uma prática pedagógica de ensino de leitura e de escrita cartilhesca, fundamentada na escrita de palavras e frases descontextualizadas e repleta de atividades que têm fim e si mesmas. Tendo em vista a problematização que fazemos de tais atividades no interior da linguística e da educação – desde a década de 80 – denunciamos seu retorno às práticas clínicas e educacionais, agora com suposto respaldo científico da chamada neuroaprendizagem.