A educação intercultural é um caminho para a formação humana, baseada no reconhecimento e respeito a diversidade presente no contexto em que se está inserido e para além dele. Ela acontece no entrelaçar de saberes e na promoção de espaços de autoafirmação e garantia do direito de todos viverem a partir de suas raízes, ancestralidades, tendo suas memórias fortalecidas em prol da perpetuação de seus costumes e crenças. Nesse sentido, em diálogo com estudiosos como Ailton Krenak (2019), Antonio Candido (2011), Candau (2012), Jacques Le Goff (1990), Paul Ricoeur (1994 e 1997), foi desenvolvida uma pesquisa que teve como um de seus objetivos analisar a contribuição da literatura indígena para a formação da memória intercultural no contexto educativo em Roraima. Para tanto, realizou-se uma pesquisa-ação, desenvolvida por meio de oficinas literárias, que tiveram como público 25 alunos da turma do 2º ano do ensino fundamental anos iniciais, do Colégio de Aplicação da Universidade Federal de Roraima. Nas oficinas foram abordados cinco livros do escritor roraimense Cristino Wapichana: A boca da noite, Ceuci, a mãe do pranto, A cor do dinheiro da vovó, Sapatos trocados – como o tatu ganhou suas grandes garras e O cão e o curumim. Nelas foi possível perceber que as crianças demonstraram apreço e envolvimento com os livros. No caso dos livros de Cristino Wapichana, envolvidos pelas histórias ancestrais que coloriram a imaginação das crianças, ao relacionarem as vivências dos curumins protagonistas às suas próprias vivências, dado o contexto regional. Neste estudo, foi possível compreender que a literatura indígena, na perspectiva da educação intercultural, propicia a formação da memória coletiva intercultural e colabora com as reflexões sobre a literatura indígena contemporânea, frente a afirmação de uma educação intercultural, além de contribuir com a ampliação da visibilidade das culturas e identidades indígenas roraimenses.