O ingresso de jovens e adultos no mercado de trabalho, sobretudo, em vagas formais, é um dilema nos dias atuais. O grau de instrução e a qualificação profissional são apontados como os principais obstáculos para a absorção desse público nas oportunidades de emprego. A Fundação Gol de Letra, instituição do “terceiro setor” atuante no complexo de favelas do Caju, tem como uma de suas frentes de trabalho a qualificação e o desenvolvimento pessoal de jovens e adultos moradores por meio de cursos profissionalizantes gratuitos. Além de viabilizar a construção de habilidades e competências profissionais, requisito para o acesso às vagas, uma das práticas que se soma ao processo formativo visa criar um espaço de orientação profissional e sociocultural com base numa perspectiva sócio-histórica, crítica e interseccional, que contribua com um ingresso mais consciente aos espaços ocupacionais, e que respeite a constituição cultural dos participantes. Nesse sentido, este artigo tem o propósito de refletir sobre o processo em curso de (re) estruturação das atividades de orientação profissional e sociocultural, pensando sobre as influências possíveis da educação popular sobre a sua construção. Para isto, utilizou-se como metodologia dividir o estudo em dois passos: (1) ampliar a apreensão sobre os métodos e as abordagens da educação popular de orientação paulofreiriana e marxista; e (2) refletir sobre a (re) estruturação dos planejamentos das formações, identificando seus limites e possibilidades para oportunizar a construção de um saber orgânico e popular. O principal resultado obtido aponta que os elementos constitutivos das metodologias de educação popular, as quais estimulam a luta coletiva pela emancipação humana, são, de fato, parâmetros fundamentais para que as atividades formativas, além de dialogar com as demandas do mercado de trabalho, incentivem a autonomia, a coletivização e a politização de demandas, o reconhecimento do território, e a valorização da cultura local.