A clínica psicanalítica mostra que o despertar para a sexualidade feminina é vivido de modo a conflitar a pergunta sobre o que é ser mulher, instaurada a partir de traços infantis da relação da menina com a mãe, atualizados na vida adulta, nos encontros amorosos e mesmo nos corpos, como restos do que permanece irresoluto da equação da feminilidade. “Catástrofe” e “devastação” são referentes teóricos da psicanálise freudo-lacaniana, respectivamente, para abordar a fixação nesses remanescentes da relação materna. Através de recortes de um relato clínico, temos o objetivo de situar a problemática da relação mãe e filha, sua reverberação no corpo e possíveis implicações quanto à sexualidade feminina. Utilizaremos os recursos metodológicos da “marca do caso” para acessar o que aparece enquanto traço ou marca corpórea na narrativa em questão. Percebemos que a atividade empregada nesse jogo significante concernente à sexualidade feminina, não prescinde do traço materno, mas requer ultrapassá-lo no sentido de subjetiva-lo, fazendo-o equivaler simbolicamente a uma extração de gozo.