Este trabalho aborda a gastronomia enquanto área do conhecimento científico em processo de desenvolvimento e estruturação continuada, tendo como essência de sua construção sócio-político-cultural os múltiplos saberes humanos como alicerces de seu ensino-aprendizagem. A interdisciplinaridade, nessa perspectiva, é intrínseca ao fazer culinário e ao ato do ensino-aprendizagem dos estudantes, visto que um profissional da área da gastronomia não pode simplesmente fazer uma receita, sem saber da importância do uso das práticas e técnicas operacionais que envolve o ato de preparar um alimento para uma coletividade. Para além disso, as práticas rotineiras de culinárias não se restringem ao único objetivo de satisfazer a necessidade humana vital, pois o ato de comer envolve várias nuances culturais e sociais. Nesse sentido, faz-se necessário a contribuição das diversas ciências que agregam múltiplos conhecimentos e suas características específicas imersas no fazer culinário contemporâneo. Assim, objetiva-se neste artigo identificar as várias ciências constitutivas da educação gastronômica e suas interlocuções intrínsecas, logo efetivando uma interdisciplinaridade orgânica. Para isso, nosso referencial teórico-metodológico fundamenta-se em Canella-Rawls (2012), Barham (2002), González (2023), Neves (2022), Flandrin e Montanari (2018) dentre outros. Observou-se que a fragmentação dos conteúdos em disciplinas decorrente das atuais configurações do ensino de gastronomia e do processo histórico-político da educação no Brasil não impossibilitam um ensino-aprendizagem interdisciplinar, embora possa vim a ser um desafio para algumas metodologias de ensino mais inflexíveis, pois na gastronomia ocorrem diálogos formativos dos diversos conhecimentos humanos segmentados pela estrutura educacional vigente.