As memórias de infância, durante a ditadura militar, marcadas por violências de múltiplos vetores, do totalitarismo de Estado, de gênero, sexualidade, raça, classe e de territorialidade, são, ainda, nos dias atuais, pouco conhecidas e têm tímida visibilidade, até mesmo quando se trata de crianças da época. Dessa forma, para além de ressaltar essas memórias de infâncias que, por ora, estão esquecidas, o objetivo desta pesquisa é analisar o contexto histórico, sócio-político e o cotidiano em que esses corpos estavam inseridos, marcados pela colonização e pelo patriarcado, como pilares importantes da sociedade capitalista que, durante a ditadura, muito se pautou no ideário nacionalista/conservador como mote do progresso e do desenvolvimento da nação. Trata-se, portanto, de uma pesquisa qualitativa, que se fundamenta em Walter Benjamin, para a compreensão da infância como memória e perspectiva crítica sobre o tempo presente; na análise de discurso de Michel Foucault; e na abordagem metodológica da interseccionalidade. A partir da análise do discurso de cinco mulheres participantes, buscou-se compreender: como as normativas de gênero atreladas ao feminino aparecem nas memórias de mulheres como parte da educação vivida na escola e na família; os sentidos que elas produzem sobre a educação para o feminino em suas infâncias e quais outras referências simbólicas elegem para compor suas memórias e, também, como marcadores sociais de gênero, raça/etnia, classe e território configuram as memórias de infância dessas mulheres. Assim, viu-se a necessidade de registro da produção dessas memórias de infância na ditadura militar, na região mato-grossense, de modo que esta pesquisa tem, também, denúncias de como a educação da época tem efeitos de subjetivação até hoje, seja por meio de normativas de gêneros, sexualidades, familismos e/ou subversões.